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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Dani Collins

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Mais do que um casamento de conveniência, n.º 1555 - Agosto 2014

Título original: More Than a Convenient Marriage?

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5384-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

Gideon Vozaras recorria a toda a sua disciplina para manter o pé leve no acelerador do carro alugado, esforçando-se para manter um ritmo desacelerado ao longo da estreita estrada da ilha, enquanto agarrava no volante com tanta força que fazia os nós dos dedos ficarem brancos. Quando o outro carro estacionou, no outro lado do sumptuoso portão palaciano de uma propriedade, ele parou o seu a uma distância discreta e permaneceu dentro do veículo. Quando desligou o motor, o ar condicionado parou. Um calor intenso envolveu-o.

Bem-vindo ao inferno.

Detestava a Grécia, devido aos seus dias quentes. E, nesse dia, estava previsto ser um dos mais quentes, já registados. O ar tremeluzia sob o sol incansável e ainda não eram dez horas da manhã. Mas não era o tempo que merecia ser notado.

Os portões da propriedade estavam abertos. O outro carro podia ter passado através deles, até casa, mas ficou estacionado do lado de fora. Observou a motorista a sair e a esperar um momento, para considerar a entrada sem proteção. Ela hesitou, antes de decidir entrar.

Quando desapareceu entre as imponentes colunas de tijolo, Gideon saiu do carro e caminhou num ritmo calculado, com as vísceras a contrair-se a cada passo. Com a indignação a correr-lhe nas veias.

Gideon queria acreditar que não era a sua esposa, mas não havia maneira de confundir Adara Vozaras. Ele não. As roupas «turísticas» que ela usava, sandálias de dedo, calças de ganga pelo joelho, uma blusa sem mangas e o cabelo preso num rabo de cavalo, talvez não se adequassem ao seu estilo, frequentemente profissional, mas conhecia bem aquele traseiro. O ardor que lhe causava no sangue era incalculável. Nenhuma outra mulher despertava um fogo sexual de desejo nele, daquela forma. O seu inesgotável ardor por Adara sempre tinha sido a cruz que carregava. E, nesse dia, era algo particularmente indesejável.

Passara uma semana com a mãe. «Aqui, não é Chatham, doçura».

Abrandou o passo, quando passou pelo carro dela, olhando lá para dentro para ver um mapa da ilha, no assento do passageiro. Um logotipo no canto do mapa assinalava o hotel que, segundo lhe disseram, ela tinha reservado. E agora, estava a avisar o seu amante sobre o lugar onde podia encontrá-la? Caminhando, confiante, pela entrada milionária da mansão dele, de um milhão de dólares?

A única indicação da posse da propriedade, os escudos no portão, estava virada de costas para a parede de tijolo que separava a propriedade da estrada.

O corpo de Gideon contorceu-se, sentindo vontade de perder o controlo. Não era um homem pobre. Já não invejava a riqueza dos outros homens, pois atingira um certo nível e tinha a sua própria riqueza. Não obstante, um pequeno aborrecimento despertava o seu complexo de inferioridade, de rato de porão. Sobretudo, quando absorveu o que podia ver da propriedade à beira-mar, que se estendia até uma vinha e um pomar de laranjeiras. A casa de pedra, altaneira, de três andares, com torres em cada canto, parecia pertencer a uma propriedade inglesa e não a uma ilha grega. Tinha, no mínimo, vinte quartos. Se aquilo era um refúgio para os fins de semana do proprietário, era um homem obscenamente rico.

Não que Adara precisasse de um homem rico. Crescera e fora educada sem precisar de nada. Tinha a sua própria fortuna e metade da de Gideon. Portanto, qual era a atração que sentia, para estar ali?

Sexo.

O sussurro insidioso formou um nó de traição no seu peito. Era essa a razão pela qual não partilhava aquele seu corpo voluptuoso com ele, há semanas? Cerrou os punhos, quando sentiu o fel a formar-se na garganta.

Temendo o que podia ver, quando olhou para a porta da frente, mudou de posição para ter uma visão total do cenário. Adara parara perto da casa, para falar com o jardineiro. Um camião repleto de ferramentas estava estacionado a uma pequena distância da estrada e os trabalhadores labutavam como abelhas, nos jardins cobertos de flores.

O sol aquecia a nuca de Gideon, com intensidade suficiente para o queimar através da camisa, formando gotas de suor no peito e costas.

Tinham chegado cedo, naquela manhã. Adara apanhara um barco e Gideon seguira-a num barco a motor, que ele mesmo pilotava. Depois, ela conduzira um carro que alugara em Atenas. O aluguer do carro dele fora negociado na marina, mas a ilha era pequena. Não ficara surpreendido quando ela o ultrapassara e ficara à frente do seu carro, quando virara para a estrada principal.

Não, a surpresa tinha sido o telefonema há trinta e seis horas, quando o agente de viagens tinha marcado o número do seu telemóvel, por engano. «Serei sempre um sobrevivente», pensara Gideon, rapidamente. Mencionara que gostaria de surpreender a esposa, juntando-se a ela. E, em segundos, tinha conseguido todos os detalhes da viagem clandestina de Adara.

Bem, nem todos. Não sabia quem ela iria ver ou como conhecera o homem misterioso. Porque é que Adara estava a fazer aquilo, quando lhe dava tudo o que pedia?

Observou o pescoço esbelto de Adara a curvar-se, devido à deceção. Ah! O canalha não estava em casa. Sorriu, satisfeito, cruzou os braços e esperou pela esposa.

Adara desviou o olhar da estrada, onde o sol estava a refletir-se no seu carro alugado, penetrando nos seus olhos.

Os terrenos daquela propriedade eram infinitamente mais bonitos e dignos de admirar, de qualquer modo. O relvado bem cuidado estendia-se até às vinhas e uma praia de areia branca cintilava, mais abaixo. As gotas de orvalho brilhavam na relva e o ar quente vinha do mar, trazendo um cheiro a sal, a maresia. Tudo era brilhante, encantador.

Talvez fosse apenas o seu humor, mas era uma mudança refrescante, para afastar a depressão, a ansiedade e a rejeição. Parou para saborear o primeiro momento otimista que tivera, em semanas. Olhando para o horizonte, onde o Mediterrâneo azul encontrava um céu sem nuvens, suspirou de contentamento. Não se sentia tão relaxada desde... Desde sempre. Desde a infância, talvez. Nos primeiros anos da sua infância.

E aquilo não duraria. Sentiu uma dor lancinante na barriga, quando se recordou de Gideon. E da sua assistente particular.

«Ainda não», relembrou a si mesma. Aquela semana era dela. Estava a guardá-la para ela e para o irmão. Se ele regressasse. O jardineiro dissera «uns dias» mas, segundo a pesquisa de Adara, Nico ficaria naquela ilha durante toda a semana. Portanto, obviamente, ele tinha mudado de planos. Mas tinha esperança de que Nico regressaria de uma maneira tão repentina como partira.

«Simplesmente, liga para ele», refletiu Adara. Contudo, ao fim de todos aqueles anos, não estava certa de que ele saberia quem ela era ou se estaria interessado em saber notícias suas.

Nico nunca pegara no telefone para lhe ligar. Se se recusava a falar com ela, tinha de se conformar. Formou-se um nó na sua garganta. Adara queria apenas vê-lo, olhar nos olhos dele e saber por que motivo nunca voltara para casa ou falara com ela, ou com os irmãos mais novos, novamente.

Soltou outro suspiro profundo, um pouco mais pesado, enquanto se virava e caminhava na direção do seu carro. Estava desanimada por Nico não estar ali. Não que pretendesse ir a casa dele, assim que chegasse, mas o quarto de hotel ainda não estava pronto. Num impulso, decidira procurar a propriedade, os portões estavam abertos e entrara. Agora, tinha de esperar...

– O teu amante não está em casa?

Aquela voz familiar parou o coração de Adara. De onde estava, olhou para o esplendor que era o seu marido. A feroz atração de sempre tomou conta dela.

Não havia um único dia em que não pensasse como arrebatara um homem tão atraente e sensual. Era desavergonhadamente bonito, com feições uniformes e duras, o suficiente para serem bastante masculinas. Raramente sorria, mas não tinha de fazer charme quando a sua sofisticação e inteligência exigiam tanto respeito. A mera presença física enchia uma sala. Sempre pensou nele como sendo um garanhão de raça pura, disciplinado, mas com uma energia invisível e um poder que avisava que podia explodir a qualquer momento.

«Não demonstres surpresa», pensou ela, mordazmente. Como é que ele tinha aparecido naquele fim de mundo, quando se esforçara ao máximo para manter o seu destino estritamente confidencial?

Felizmente, Adara tinha experiência em esconder reações viscerais, como a atração animal, instantânea, e o alerta de culpa. Manteve os óculos de sol sobre o nariz, a pulsação abrandou o ritmo, mas a sua linguagem corporal era indecifrável.

– O que estás a fazer aqui? Lexi disse-me que estarias no Chile.

O tom de voz de Lexi ainda a incomodava. Tão dona e senhora da agenda de Gideon, tão penalizada quando olhara para a esposa ignorante, que não só falhara como mulher, biologicamente, como já não despertava desejo no marido. Adara quisera apagar o sorriso superior daquela mulher, com as suas unhas afiadas.

– Que tal invertermos a pergunta? – Gideon caminhou com mortal negligência, à volta do carro dela.

Adara nunca tivera medo dele, não fisicamente, não do modo que tivera do pai. Mas, em algum ponto do caminho, Gideon desenvolvera o poder de a ferir com um olhar ou com uma palavra, sem sequer se esforçar, e aquilo amedrontava-a.

Fincou os pés no chão e encontrou a armadura confiável de civilidade, que assumira como autodefesa há muito tempo. Aquilo sempre a ajudara a lidar com aquele homem e até permitia que se envolvesse com ele, intimamente, sem se perder. Mesmo assim, queria erguer muralhas invisíveis, mais altas e mais grossas. As suas razões para ir para a Grécia eram demasiado particulares para compartilhar, visto que acarretavam um grande risco de rejeição. Essa era a razão pela qual não dissera a ninguém para onde ia.

– Estou aqui para tratar de assuntos pessoais – replicou, num tom demissível que não permitia discussões.

Ele, por sua vez, deveria ter-lhe dado o seu assentimento educado de reconhecimento, que sempre demonstrava o quão supremamente indiferente ele era ao que acontecia no mundo dela. Podia ferir um pouco, mas era muito melhor ter os seus julgamentos e triunfos descartados, do que diminuídos e dissecados.

Como era hábito, não se importaria de repetir uma pergunta que ele tivesse ignorado, embora quisesse saber, realmente, como e por que motivo a seguira.

«Não adianta mudar de tática, agora», pensou ela. Com muito pouco em comum, podiam terminar aquele relacionamento, tão desapaixonadamente quanto tinham começado.

Aquilo causou-lhe uma dor considerável e, estranhamente, mesmo que a linguagem corporal dele fosse neutra, como sempre, a sua expressão permanecia impassível. Quando ele falou, as palavras foram calmas, todavia, ela sentia uma certa ferocidade.

– Posso ver o quanto é pessoal. Quem é ele?

O coração dela deu um pulo. Gideon raramente ficava zangado e, ainda mais raramente, demonstrava raiva. Certamente, nunca dirigira a energia escura para ela, mas aquela acusação deixou-a na defensiva.

Disse a si mesma que não deixaria o golpe perfurar a sua concha, mas a acusação foi um choque e nem conseguia acreditar no rancor dele.

O marido estava a ter, abertamente, um caso com a secretária. Todavia, tinha a audácia de a seguir por toda a Grécia, para a acusar de traição?

Felizmente, por experiência, sabia que não era prudente provocar um homem com raiva. Escondendo a sua indignação atrás de frio desdém, calmamente, corrigiu a acusação dele.

– Ele tem esposa e um bebezinho...

O sarcasmo de Gideon tirou-a do sério.

– Enganar o companheiro não era o suficiente. Tinhas de enganar dois e arruinar a vida de uma criança?

«Desde quando é que te importas com crianças?», pensou.

Engoliu a pergunta, mas uma queimadura feroz chispou através dos seus olhos, algo completamente indesejável, pois precisava de se manter equilibrada.

– Como já referi, Lexi garantiu que tinhas compromissos no Chile. «Vamos apanhar um avião para Valparaíso», disse ela. «Vamos ficar hospedados numa das suítes do Makricosta Grand» – impassivelmente, pronunciou aquilo que Lexi não dissera, mas que estivera subentendido nos olhos e no seu sorriso malicioso. – «Vamos partir a cama e chamar os empregados para trazerem o pequeno-almoço». Quem está a enganar quem?

Ficou orgulhosa da sua declaração desinteressada, mas o seu ressentimento revelava muita emoção, que nunca ousara revelar perto dele. Não conseguiu evitar. O adultério fora um golpe que não vira chegar, que a deixara sempre vigilante para suportar novos ataques.

Sempre. De algum modo, convencera-se de que podia confiar nele e, se estava zangada com alguém, era com ela mesma, por ser tão cega, obviamente. Estava furiosa, por ter dificuldade em esconder que tremia, mas cerrou os dentes e ordenou aos seus músculos que se livrassem da tensão e que o sangue parasse de ferver.

Ele não reagiu. Se ela travava uma batalha, diariamente, para manter as suas emoções escondidas, os pensamentos íntimos e os sentimentos dele não existiam, absolutamente. A voz dele era nítida e glacial, quando disse:

– Lexi não disse isso, porque não é verdade. E porque te importarias, se ela o dissesse? Nós não andamos a partir nenhuma cama, pois não?

«Pergunta-me porquê», desejava dizer. Mas as palavras e a razão permaneceram tão profundamente enraizadas dentro dela, que não conseguiu falar.

Dor e pesar ameaçaram tomar conta dela.

O que tinha de fazer era ignorar a humilhação e ir-se embora.

– Quero o divórcio – declarou ela, sentindo o coração a bater desenfreadamente.

Por um segundo, o mundo deixou de girar. Não estava certa se, realmente, dissera aquilo em voz alta. Ele não se mexeu, como se não tivesse ouvido ou não pudesse compreender.

Depois, ele suspirou longamente. Deitou os ombros para trás e ficou ainda mais alto do que já era.

Oh, meu Deus. Tudo nela gritava «vai-te embora». Baixou a cabeça e passou junto dele, para se aproximar da porta do carro.

Ele estendeu-lhe a mão e o sangue dela deu um salto, traiçoeiro. Rapidamente, bloqueou o desejo e o anseio, agarrando-se ao ódio para resistir.

– Não penses sequer, por um minuto, que te deixarei tocar-me.

– Certo. Tocar está fora dos limites. Continuo a esquecer-me disso.

Uma sensação de profunda tristeza apoderou-se dela. Gideon estava a tornar-se tão bom a lançar as injúrias mais perto da alma dela... Tudo o que ele tinha de fazer era falar a verdade.

– Adeus, Gideon. – Sem olhar para ele, novamente, entrou no carro e foi-se embora.