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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Anne Marie Rodgers

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um filho teu, n.º 481 - dezembro 2018

Título original: Billionaire Bachelors: Ryan

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-309-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

«O génio das finanças de Boston, Ryan Shaughnessy, fica em sexto lugar na nossa lista de solteiros mais cobiçados do Nordeste. Shaughnessy, de trinta e dois anos, multimilionário com interesses financeiros em negócios diversos, ostenta a patente da Securit Lock, uma inovação tecnológica criada há dez anos que revolucionou o mundo da segurança no lar. Viúvo há dois anos, e sem filhos, é um homem que se fez a si mesmo. Vive no exclusivo bairro residencial de Brookline, em Back Bay, Boston, mede um metro e noventa e dois e pesa noventa e três quilos. Se quer captar o interesse deste eminente solteiro de ouro, não tem mais que ir nadar, remar ou correr».

Ryan Shaughnessy ouviu a sua acompanhante à mesa mal ocultando o mau humor. Olhou-a e disse:

– Afasta isso da minha vista.

– Estou impressionada – respondeu Jessie Reilly, guardando a revista na mala com um sorriso e um brilho no olhar que Ryan conhecia bem, depois de terem crescido juntos. – Quem haveria de pensar que o fracote do meu vizinho ia converter-se num «eminente solteiro de ouro»?

O aborrecimento de Ryan durou pouco. Jessie estava tão bonita como sempre, com o seu fato de jaqueta cinzenta e as suas botas pretas, de Inverno. Ryan sentiu uma vez mais a atracção sexual que tinha sentido sempre por ela, com o seu sorriso.

– Se soubesse que ias trazer essa parvoíce, não teria vindo.

A verdade era que Ryan jamais desperdiçaria uma oportunidade de ver Jessie. E sabia-o. Jessie tinha sido sua vizinha durante a infância, o seu primeiro amor, não correspondido, durante a adolescência, e a sua melhor amiga durante toda a vida. Viam-se todas as terceiras quartas-feiras do mês para almoçar. Jessie sacudiu a cabeleira castanha com madeixas cor de cobre. Ryan era perfeitamente consciente de que mais de um homem a observava, no bar do hotel Ritz Carlton.

– Pois fico feliz que tenhas vindo. Estive a pensar em ti, perguntando-me como estarias – respondeu Jessie, a contemplar o parque pela janela com os seus olhos verdes acinzentados.

Ryan sabia que não se referia a como ia a vida em geral. Na realidade, o que Jessie queria saber era como estava depois da morte de Wendy. Ela tinha-lhe feito essa pergunta todos os meses, ao longo daqueles dois anos, no meio da conversa e de uma forma completamente natural. Mas naquele dia Ryan preferia não pensar nisso, de modo que respondeu com um tópico:

– A vida corre-me bem. Os negócios vão bem. E tu, que tal?

– Bem – respondeu ela, com uma breve expressão de reprimenda, deixando-o a pensar. – Os negócios… são negócios.

– Corre alguma coisa mal na galeria?

– Não, exactamente mal, não – vacilou Jessie. – Esta manhã soube que o meu maior concorrente se expandiu. De momento não me afectou, mas com um lugar maior e mais mercadoria… estou preocupada.

Jessie era proprietária de uma galeria de objectos de arte a poucos metros dali, na Newbury Street, e vendia artigos selectos aos ricos que aspiravam a um elegante estilo de vida. Ryan tinha-lhe comprado presentes muitas vezes, e sempre o tinha impressionado a qualidade e a exclusividade dos objectos ali reunidos. Os preços, claro, eram dirigidos directamente às classes mais poderosas.

– E o que vais fazer?

– Não sei, ainda não tive tempo de pensar – respondeu ela, acariciando o copo de vinho. – Esta manhã estive muito ocupada, mas já me ocorrerá alguma coisa – acrescentou, encolhendo os ombros, sem dar importância ao assunto.

– Claro que sim – respondeu Ryan, levantando o copo em sua honra. – És uma mulher de recursos, a mais imaginativa que alguma vez conheci. Isso para não mencionar a tua perseverança e tenacidade.

– Bom! Obrigada. Acho eu – acrescentou Jessie, tomando um gole de vinho.

O empregado aproximou-se e Ryan pediu dois grelhados de lagosta. Enquanto os serviam, falaram sobre o tempo, sobre um artista que Jessie acabava de descobrir, que confeccionava mantas e panos de seda à mão, e sobre uma nova ideia financeira de Ryan. Minutos mais tarde, uma sombra larga projectou-se sobre a mesa. Ryan levantou o olhar, pensando que seria o empregado, mas era uma ruiva de uns vinte anos.

– És o Ryan Shaughnessy? – perguntou em tom intencionalmente sedutor.

– Sim, eu mesmo. E ela é Jessie Reilly.

Jessie fez menção de lhe apertar a mão, mas a ruiva olhou-a breve e depreciativamente e voltou-se para Ryan, oferecendo-lhe a mão como se esperasse que a beijasse.

– Olá, eu sou Amália Hunt, dos Hunt de Beacon Hui, sabes? Queres jantar comigo? Esta noite, se estiveres livre, ou qualquer outra noite que te apetecer.

– Menina Hunt, dos Hunt de Beacon Hui, muito obrigado pela sua oferta, mas temo que tenho que recusá-la – suspirou Ryan, soltando a mão da ruiva, aborrecido, incapaz de reprimir o sarcasmo, e olhou significativamente em direcção a Jessie.

– Que pena! – disse a ruiva, olhando brevemente para Jessie e valorizando-a, provavelmente, pelo seu aspecto. – Aqui tens o meu cartão, se mudares de opinião – acrescentou, inclinando-se sobre Ryan e guardando-lhe o cartão no bolso superior do casaco, enquanto lhe oferecia uma vista tentadora do seu decote. – Adeus.

Jessie tossiu, reprimindo uma gargalhada. Ryan olhou-a com a testa franzida. Não ia sair com aquela ruiva, mas também não era de pedra.

– Não digas nem uma palavra. Nem… uma… palavra…! – repetiu entre dentes, calando-se quando o empregado se aproximou com os grelhados.

– Bom, tendo em conta que me utilizaste como desculpa para despachares essa pobre rapariga…

– Sim, foste muito útil. No caminho para aqui, outra mulher fez-me exactamente a mesma proposta. Ainda bem que vieste ter comigo.

Ambos começaram a comer. Bom, Ryan a devorar e ela, a petiscar. Jessie demorava tanto a comer como um político a recitar a Declaração de Independência. Ao terminar, Ryan olhou para o grelhado de Jessie.

– Nem penses, querido – adiantou-se ela, tapando-o.

– Tinha que tentar – respondeu Ryan. Jessie mordia o lábio inferior; parecia inquieta. Algo a preocupava, suspeitou Ryan. Tinham crescido juntos em Charlestown, no norte de Boston, no centro do distrito irlandês. O pai de Ryan tinha sido comerciante, enquanto Jessie vivia com os seus avós e a sua mãe, que toda a vida tinha sido empregada. Jessie tinha menos dois anos que Ryan. Para ele, ela tinha sido o seu primeiro amor. Bom, na realidade, só tinha sido um capricho, embora tivesse durado muito tempo. Além do mais, ela jamais lhe tinha correspondido. Nem sequer o sabia. Que Ryan soubesse, Jessie jamais tinha descoberto o que ele tinha sentido em adolescente. E provavelmente era melhor assim, porque Ryan prezava muito a sua amizade.

– Algo te preocupa – afirmou ele.

– Sim – disse ela. – Queria falar contigo sobre uma decisão que tomei.

– Comigo? Porquê comigo?

– Porque tu és o meu amigo mais antigo e, provavelmente, conheces-me melhor que ninguém. Além do mais, necessito de uma opinião sincera.

– Muito bem, do que se trata?

– Estou a pensar em ter um filho.

Aquelas palavras estalaram no cérebro de Ryan como se de uma parede se tratasse. Sacudiu a cabeça, procurando dar-lhes sentido, mas foi inútil.

– Não sabia que… que saías com alguém – comentou sem a olhar nos olhos.

– Não saio com ninguém.

Graças a Deus, pensou Ryan de imediato, involuntariamente, sentindo um imenso alívio que achou ser simplesmente um instinto de protecção para com ela. Tinha-lhe um grande afecto. Amara-a louca e inutilmente durante anos, e sofrera imenso quando Jessie começara a sair com outro. Mas tinha sabido dominar a sua obsessão e casara-se com uma mulher maravilhosa, Wendy. Jessie e ela tinham ficado amigas depois de se conhecerem. Wendy costumava assistir aos almoços mensais, nos velhos tempos. Era natural que sentisse afecto por Jessie; fazia parte do seu passado.

– Ryan! Estás bem? – perguntou Jessie ao vê-lo calado. – Não pretendia assustar-te.

– Mas se não sais com ninguém, como é que… pensas ter um filho?

– Para isso servem os bancos de esperma.

– Os bancos de esperma? – repetiu Ryan, incrédulo.

– Sim, guardam esperma congelado – explicou Jessie, corando, sem o olhar nos olhos. – De facto, fiz já uma série de testes de fertilidade e recomendaram-me vitaminas e outras coisas. Sou uma candidata perfeita para a gravidez. A única coisa que tenho que fazer é escolher um dador e iniciar o procedimento.

– O procedimento?

– De inseminação artificial. Já seleccionei alguns candidatos, mas queria saber a tua opinião – acrescentou Jessie, colocando uma pasta em cima da mesa e empurrando-a até ele.

– Diz-me que não estás a falar a sério – Jessie calou-se. – Demónios! – exclamou Ryan, passando a mão pelos cabelos. – Falas a sério, Jessie… porquê? Porquê assim? E porquê agora, precisamente?

– Vou fazer trinta anos em Novembro, Ryan – afirmou Jessie com calma. – Quero formar uma família. Filhos – corrigiu-se. – Quero ser mãe enquanto for jovem e tiver energia para criá-los e desfrutar deles.

Entre ambos surgiu a recordação da infeliz e solitária infância de Jessie. Ryan recordava os seus sufocantes avós, sempre a reprovarem tudo, incapazes de perdoarem a filha por ter ficado grávida sendo solteira. E quanto à mãe de Jessie… Bom, o melhor que tinha comentado acerca dela a mãe de Ryan, que nunca tinha falado mal de ninguém, era que «não seria nada demais demonstrar um pouco de carinho pela sua filha».

– Trinta anos não é assim tanto – argumentou Ryan. – As mulheres agora têm filhos com quarenta. Por que não esperas um pouco mais? Pode ser que mudes de opinião.

– Não te peço a tua opinião para que me impeças – respondeu Jessie com dureza. – A decisão está tomada. Só queria saber o que pensavas sobre a selecção de dador, mas esquece – acrescentou, tirando-lhe a pasta, que ele agarrou imediatamente.

– Espera, quero dar-lhe uma vista de olhos – disse, procurando argumentos para convencê-la de que era uma loucura, sentindo repugnância perante a ideia de Jessie, a sua Jessie, recorrer a um banco de esperma. De seguida, abrindo a pasta, leu os dados por alto. – Aqui não há muita informação.

– Bom, são informações preliminares. Se gostar de algum candidato, tenho que pedir a informação detalhada da pessoa em questão. A informação é tanto a nível pessoal, como físico. Família, estudos académicos, esse tipo de coisas.

– E quem proporciona esta informação?

– A informação faz-se através de uma avaliação médica e um teste de personalidade, mas a maior parte dos dados são proporcionados pelo dador.

– E alguém comprova se o que dizem é verdade?

– Bom, não sei, mas por que iriam mentir?

– Não sei, mas supor que essa informação é verdadeira parece-me… não é demasiado arriscado? Li o caso de um tipo que sabia que tinha um problema genético hereditário, um defeito no coração pouco frequente, que levava à morte, e não o mencionou na sua declaração. Depois sentiu-se culpado e consultou um assessor, mas era tarde. O seu esperma tinha sido utilizado em vários casos. Armou-se um grande escândalo.

– Bom, mas esse deve ser um caso isolado, não te parece?

– Sim, mas a decisão é irreversível – insistiu Ryan com impaciência. – O que se passaria se o dador se esquecesse de comentar que há casos de diabetes na sua família, ou de esquizofrenia, ou de qualquer outra doença genética?

– Os dadores são examinados antes de aceitarem o seu esperma – replicou Jessie. – Fazem-lhes um teste físico e outro genético. Tenho informações sobre isso.

– Os médicos não podem comprovar tudo – disse Ryan. – Além do mais, como sabem se esses homens dizem a verdade?

– Não… não sei, duvido que o saibam – confessou Jessie, perplexa. – Supõem-se que respondam com sinceridade a todas as perguntas.

– Quem sabe seja assim – continuou Ryan. – De certeza que em noventa e nove por cento dos casos esses homens dizem a verdade. Bom, pode ser que todos digam, inclusive. Mas deves assumir a possibilidade de que podem mentir, para teu próprio bem.

– Maldito sejas, Ryan! – suspirou Jessie. – Deveria ter-me apercebido que falar contigo só ia confundir-me mais.

– Obrigado.

– Não era um elogio – sorriu Jessie, guardando a pasta na mala, preocupada. – Pensava fazer a inseminação de imediato, enquanto estou no período de ovulação, mas agora vou ter que pensar mais.

– Muito bem.

O resto do almoço decorreu sem incidentes. Jessie tinha que ajudar uma das suas empregadas, pelo que tinha pressa. Ao despedir-se dela e beijá-la na face, a sua fragrância invadiu-o inesperadamente. Esteve a ponto de apertá-la nos seus braços, mas reprimiu-se a tempo. Jessie, inconsciente por completo de todas essas emoções, deu um passo atrás e espetou um dedo no seu peito:

– Lembra-te, no mês que vem à mesma hora, no mesmo sítio.

Ryan despediu-se e ficou a olhá-la, enquanto Jessie caminhava pela Arlington Street. Finalmente, deu a volta e foi-se embora em direcção ao escritório, na State Street, no distrito financeiro. Estava desorientado, inquieto. O que se tinha passado? Simplesmente faltava uma mulher na sua vida, pensou. Depois da morte da sua esposa, num acidente de carro, a sua vida era demasiado solitária. Tinha gostado de viver acompanhado. E detestava voltar à rica mansão solitária de Brookline, detestava o silêncio que se criava depois dos empregados se irem embora. Detestava assistir sozinho a cocktails e festas de caridade, e que as mães arrastassem aos seus pés as suas belas filhas. No fundo, o que detestava era estar solteiro de novo. Por outro lado, acalentava a ideia de ter filhos, ideia a que tinha tido que renunciar há alguns anos atrás. Até que Jessie voltara a mencioná-la.

Filhos. Uma onda de medo invadiu a sua alma. Tinha desejado ter filhos com Wendy… Na verdade, ambos tinham querido fundar uma grande família… mas as coisas não eram assim tão simples. «Pois casa-te com Jessie. Ela quer ter um filho… e tu queres ter uma família». A ideia repentina sobressaltou-o tanto que parou em seco no meio da Tremont Street, tropeçando numa mulher que o olhou com cara de poucos amigos.

Casar-se com Jessie. A simples ideia acelerava-lhe o coração. Era curioso, mas tinha que reconhecer que algumas coisas nunca mudavam. Num certo sentido, continuava a ser um adolescente apaixonado pela vizinha. Casar-se com Jessie. Ela e Wendy não podiam ser mais diferentes. Wendy era ruiva, de olhos azuis, miudinha. Calada, encantadora, quase passiva, mal discutia com ele. Wendy tinha-se conformado em dedicar-se ao lar, jamais tinha sentido a necessidade de demonstrar o seu valor, exercendo uma profissão. Era musical, elegante. Esperava-o todas as noites no salão…

Pelo contrário, Jessie… Jessie não era nenhuma dessas coisas. Excepto elegante, claro. Sim, aquelas longas pernas, aquela forma de andar, eram definitivamente elegantes. Mas só de pensar nela sentada no salão, à espera do marido, morria de riso. Jessie era volátil, estava decidida a triunfar. E se em alguma ocasião as suas opiniões não coincidiam, não hesitava em dizê-lo. Tinha pouco ouvido para a música, mas, se a alguém lhe ocorresse dizer-lho, ofendia-se.

Pela primeira vez na vida, o facto de comparar ambas as mulheres fê-lo reflectir. Seria possível que tivesse escolhido Wendy precisamente por ser tão diferente de Jessie? A ideia era inquietante. Ryan tinha-se repetido mil vezes que o seu amor por Jessie estava superado, que não tinha sido mais que uma fantasia de adolescente, que se tinha casado com outra mulher e que a tinha esquecido. Mas no fundo da sua alma tinha que reconhecer que passara mais de dez anos a comparar todas as mulheres que conhecia com Jessie. De todos os modos, tinha-o superado. O facto de que naquele momento não pudesse deixar de pensar nela não significava nada, excepto que ela continuava a atraí-lo fisicamente. Mas, se o atraía, porque seria um absurdo refazer a sua vida com ela, ter filhos com ela, como sempre tinha desejado?

Chegou ao edifício de escritórios e, ao sair do elevador, tomou uma decisão. Depois de ligar o atendedor de chamadas e rever as mensagens pendentes, pegou no telefone. O que tinha a perder?

 

 

Depois do almoço, Jessie estava a atender um cliente quando soou o telefone. Desculpou-se e atendeu.

– Galeria Reilly, em que posso ajudá-lo?

– Sou eu.

– Ryan? – perguntou ela, surpreendida. Normalmente, não voltavam a saber nada um do outro no prazo de um mês, a menos que os seus caminhos se cruzassem casualmente. – Esqueci-me de alguma coisa?

– Não – respondeu Ryan com certa insegurança. – Perguntava-me se… telefono para te perguntar se queres jantar comigo.

– Porquê?

Ryan desatou a rir; e logo as suas gargalhadas soaram como as de um adulto, como as do homem adulto seguro e confiante em si mesmo que sempre tinha sido.

– Ocorreu-me uma ideia sobre o teu… o teu processo de selecção, e queria discuti-la contigo.

– Ah! – respondeu Jessie, contente; depois de ouvir a opinião de Ryan durante o almoço, estava muito preocupada com os possíveis riscos. – Onde e quando?

– O que te parece amanhã? Irei buscar-te. Parece-te bem às sete?

– Sim, amanhã pode ser. Às sete é uma boa hora.

se de um copo de vinho e sentou-se a jantar enquanto fazia uma lista de possíveis candidatos.

Edmund Lloyd. Não estava tão mal, excepto por aquele mau génio que às vezes não conseguia dominar. Seria um defeito hereditário? Jessie escreveu um ponto de interrogação junto ao seu nome. Charles Bakler. Era um encanto, mas… não era o homem mais inteligente do mundo. E Jessie queria que o seu filho fosse inteligente, de modo que anotou outro ponto de interrogação junto ao segundo nome. Bem, mas tinha que haver mais solteiros atractivos. E Ryan? Não, pensou de imediato, deixando a ideia não mais surgir na sua mente. Não podia pedir isso a Ryan. Não era uma opção. Ainda assim… devia incluí-lo na lista. No entanto, não escreveu nenhum ponto de interrogação junto ao seu nome. Geoff Vertier. Era uma possibilidade, excepto pelo facto de que gostava demasiado de vinho, e Jessie não queria que o seu filho tivesse inclinação para a bebida.

Deixou o lápis e suspirou, frustrada. Fazer uma lista era uma estupidez. Não sabia mais acerca desses homens do que sabia acerca dos candidatos anónimos do banco de esperma. De quem sabia tudo era de Ryan, pensou. Tomou um gole de vinho. Sem dúvida, era ele o melhor candidato. Inteligente, amável, desportista, toda a sua família era saudável. Fisicamente, era perfeito. E se alguma vez tivesse um filho que se parecesse com ele, ficaria encantada. Mas como pedir-lhe?

Sacudiu a cabeça e levantou-se. Impossível, não podia. No entanto, enquanto lavava os pratos, ocorreu-lhe uma ideia. Ia jantar com ele no dia seguinte; Ryan tinha algo a dizer-lhe. E se pensava oferecer-se voluntariamente como dador? Sim, devia ser isso, pensou, tapando a boca. Por que outra razão ia querer jantar com ela?

Saiu a dançar da cozinha para o quarto. Era perfeito. Jamais se teria atrevido a pedir-lhe, mas se ele se oferecesse… era simplesmente perfeito. Além do mais, não tinha uma esposa que pudesse ofender-se. Era pura casualidade que Ryan não estivesse casado. Despiu-se e deitou-se na cama, mas não conseguiu dormir.

Quando Ryan e Wendy se conheceram, ela estava na Universidade de Alabama. Nem sequer voltou a casa para assistir ao casamento. Por essa altura, Ryan começara a ganhar muito dinheiro.

Wendy. Jessie recordava-se perfeitamente dos ciúmes que tinha sentido quando Ryan lha apresentou. Era tímida e de silhueta muito feminina, com olhos azuis e cabelo ruivo. Agarrava-se timidamente a Ryan, provocando nela um sentimento de perda e de ciúmes. Ryan tinha sido sempre o seu melhor amigo. Durante anos, era a pessoa a quem acudia quando tinha um problema; tinha-a ajudado a sobreviver a uma infância triste e amarga. O laço que os unia tinha sido sempre muito especial. Era verdade que a sua amizade se debilitara quando ela começou a sair com Chip, e depois ainda mais, ao ir embora com ele para Alabama, mas de algum modo Ryan tinha continuado a ser seu.

A essa altura dos acontecimentos, Jessie tinha-se recuperado dos seus ciúmes por Wendy. Tinha decidido ser amável com ela, pensando que se tratava de uma atitude infantil. Além do mais, não havia no mundo uma pessoa mais doce que Wendy. Jessie e ela chegaram a ser boas amigas. De facto, tinha sido Wendy quem tinha sugerido que se vissem na terceira quarta-feira de cada mês. Quem pensaria que Ryan e ela continuariam a ver-se, depois de Wendy falecer há seis anos?

E quem pensaria que Ryan seria o pai do seu filho? Porque Jessie estava convencida de que era isso que Ryan ia dizer-lhe. Mal podia esperar.