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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2016 Dani Collins

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Romance de fachada, n.º 1781 - março 2019

Título original: Bought by Her Italian Boss

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência. ®

Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-655-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Gwyn Ellis olhou do ecrã para Nadine Billaud, gerente de relações públicas da Donatelli International, e voltou a olhar para o ecrã.

– Esta és tu, oui? – atirou Nadine.

Gwyn não conseguia falar. O coração começou a martelar-lhe as costelas assim que se reconheceu. Corria-lhe um suor frio. O ar não conseguia passar pela sua garganta apertada, muito menos palavras.

Aquela era ela. Nua. Ali mesmo, no ecrã do computador, estavam as suas nádegas expostas, nítidas como a lua, belamente emolduradas por um sensual fio dental cor-de-rosa. Toda a gente tem um traseiro mais ou menos parecido, mas ela era extremamente seletiva quanto a exibir o dela a qualquer pessoa. Logo, certamente não enviava fotos como aquelas por e-mail a homens que mal conhecia. Nem as publicava na internet.

Era como se uma corrente elétrica gelada estivesse a vibrar pelo corpo dela, paralisando-a.

Surgiu uma nova foto: um torso nu, com um lençol amarfanhado a cobrir-lhe a cintura – e, aqui, também era ela. A forma como os seios se destacavam, o arquear de costas, o levantar do cabelo com as mãos; tudo era deliberadamente erótico, assim como aquela expressão inocente de prazer. Dava a sensação de que tinha passado o dia inteiro a fazer amor, como se soubesse o que isso era!

Depois, surgiu novamente a foto final. Ela estava a ajustar o elástico das cuecas cor-de-rosa, com uma anca inclinada para o lado, como se estivesse a decidir provocantemente se deveria despi-las ou não; tinha os olhos semicerrados, indolentes, e os lábios subtilmente curvados.

A luz era dourada e a sua pele tinha um ligeiro brilho, por causa do óleo, percebeu ela quando o seu cérebro voltou a funcionar após o choque. Aquelas fotos tinham sido tiradas num spa, onde fizera uma massagem para livrar-se de uma dor entre as omoplatas que a torturava há semanas. Estava a vestir-se após a sessão, relaxada e confortável no que acreditava ser a mais completa privacidade.

A marquesa de massagem tinha sido retirada das imagens, vendo-se apenas uma parede lisa verde-acinzentada e flores desfocadas e indistintas ao fundo. Poderia ser um quarto de hotel, o quarto dela, ou qualquer outro cenário que o público quisesse imaginar.

O estômago dela revirou-se. Pensava já estar a hiperventilar quando começou a ouvir um zunido distante. Ela queria vomitar, desmaiar, morrer. Por favor, meu Deus, leva-me agora.

Mademoiselle? – interrompeu-a Nadine.

– Sim – balbuciou ela. – Sou eu. – Então, quando percebeu a gravidade da situação, acrescentou: – Podes fechar isso, por favor?

Ela olhou para o signor Fabrizio, o seu supervisor. Ele estava sentado ao lado dela e tinha uma expressão de desdém no rosto de meia-idade.

– É preciso mostrares isso agora, com ele aqui? – perguntou Gwyn. – Não podias tê-lo feito em privado?

– As fotos estão disponíveis para toda a gente na internet. Eu já as vi – disse Fabrizio de um modo petulante. – Eu é que que chamei a atenção de Nadine para as fotos.

Ele já tinha visto aquelas fotos? Que nojo.

Nos seus olhos surgiram lágrimas, como se tivesse sido atacada por um vento forte. Um golpe igualmente brutal pareceu atingir-lhe o estômago, fazendo-lhe subir a ansiedade até à garganta.

– Obviamente, tu sabias que isto poderia acontecer quando tiraste estas fotos e as enviaste para o Sr. Jensen – disse Nadine.

O nariz de Nadine estava empinado desde que Fabrizio entrara com Gwyn no escritório dela. Ele não parava de lançar-lhe olhares afetados, como se estivesse a ver através da saia lápis azul, perfeitamente respeitável, e do casaquinho a condizer.

Ele causava-lhe arrepios de aflição.

E fazia-lhe as palmas das mãos suarem de preocupação com o emprego.

– Não tirei estas fotos – disse ela com toda a força que a sua garganta lhe permitia. – E vocês acham que eu enviaria algo assim a um cliente? As fotos são… Oh, por amor de Deus. – Ela ouviu a porta a abrir-se atrás dela e levantou-se de repente, fechando ela mesma a tampa do computador portátil de Nadine e desejando que aquelas imagens pudessem desaparecer também assim, tão facilmente.

No fundo da sua mente ela sabia que ia chorar. Em breve. A pressão estava a acumular-se-lhe na garganta e atrás dos olhos, estava a comprimir-lhe os pulmões. Mas, por agora, ela estava em estado de choque. Como se tivesse levado um tiro e ainda tivesse forças para fugir antes que a gravidade real dos ferimentos a debilitasse.

Signor Donatelli. – Nadine levantou-se. – Obrigada por ter vindo.

– Tu reportaste-lhe o caso? – perguntou o signor Fabrizio, parecendo consternado.

O que restava da compostura de Gwyn desapareceu. O dono do banco estava ali? Ela tentou preparar-se para encarar outra expressão de repulsa.

– É o que manda o protocolo em situações de risco para a reputação do banco – afirmou Nadine com seriedade, aumentando o peso no peito de Gwyn.

– Ela já sabe – apressou-se Fabrizio a garantir ao signor Donatelli. – Eu estava prestes a dizer-lhe para ir recolher os seus pertences.

O tempo parou enquanto ela processava a demissão. Que tolice a dela. Gwyn pensou que estava a ser chamada para discutir o possível desvio de fundos de um cliente, e não para ser humilhada à frente de toda a gente.

Literalmente toda a gente. O bullying virtual é assim. Perseguição. Caça às bruxas. Apedrejamento. Ela ainda não conseguia compreender a dimensão da injustiça de que estava a ser alvo.

A única experiência remotamente semelhante àquela ocorrera quando a mãe de Gwyn recebera o seu diagnóstico. Diziam-se palavras, os factos afiançavam o que não podia ser negado, mas ela não fazia ideia de como, dali para a frente, iria ser o próximo minuto, a próxima semana, o resto da sua vida.

Não queria encarar a realidade, mas não tinha escolha.

E o silêncio à sua volta dizia-lhe que era isso que todos estavam à espera que ela fizesse.

Muito lentamente, virou-se para o homem que tinha acabado de entrar, mas não era Paolo Donatelli, presidente e chefe da família proprietária da Donatelli International. Não, era bem pior.

Vittorio Donatelli. Primo de Paolo, vice-presidente de Operações. Um homem de beleza indiscutivelmente mais impressionante, pelo menos na opinião dela. Os seus traços eram tão refinados quanto o exigia a sua linhagem italiana. Ele vestia um fato feito à medida, era aflitivamente elegante e tinha um ar de arrogância que advinha tanto da estatura acima da média como da sua expressão de indiferença. A sua óbvia habilidade para dominar qualquer situação estava patente na maneira como todos ficavam em silêncio, aguardando que ele falasse.

Ela tinha a certeza de que ele nunca a tinha visto mais gorda. Certa vez, ela sorrira-lhe alegremente, pouco depois de chegar a Milão. Mas ele olhara para ela como se ela nem existisse, o que a magoou. E muito, por mais ilógico que isso fosse.

– Nadine. Oscar – disse Vittorio antes de lançar a Gwyn um olhar penetrante com os seus olhos de bronze.

O coração dela fez uma pirueta entre os batimentos, deixando-a à beira da histeria. A boca estava tão seca que ela não conseguia esticá-la para sorrir. E duvidava que conseguisse voltar a sorrir. O estranho zunido intensificou-se.

– Menina Ellis – disse ele, fazendo um aceno hostil com a cabeça.

Ele sabia o nome dela por causa do relatório de Nadine, supunha Gwyn. A acusação furiosa naqueles olhos dizia que ele já tinha visto as fotos. Claro que sim. Era essa razão pela qual tinha abandonado o conforto do último piso para deslocar-se até ao meio do prédio da Donatelli.

Gwyn respirava com dificuldade, os joelhos tremiam-lhe. Estava chocada com o efeito sem precedentes que aquele perfeito estranho tinha sobre ela, com o facto de ele ter visto as fotos. Ela vira-o uma vez a andar pelo escritório em Charleston e o mero vislumbre daquele belo e dinâmico homem fora suficiente para fazê-la cobiçar um cargo na sede em Milão. Ela queria progredir na carreira e teria aceitado qualquer proposta de promoção, mas aquela era a filial dos seus sonhos.

Porque ali Gwyn teria a oportunidade de vê-lo.

Cuidado com o que desejas. Ela comprimiu os lábios numa linha tensa e desviou o olhar, tentando recuperar-se.

Obviamente, ele estava longe de ser o homem que ela fantasiara. Achava que os italianos eram homens calorosos e sociáveis que adoravam mulheres. Esperava que ele fosse namoriscar com ela caso chegassem a conversar. E esperava que ele lhe desse a oportunidade de deixá-lo intrigado, apesar de Gwyn trabalhar para ele.

Porém, o homem pelo qual ela estava obcecada não só a tinha visto nua, como também não parecia ter ficado nada impressionado. Ele estava ultrajado. Ele culpava-a. E, provavelmente, na sua mente, já a tinha chamado de vadia e pior…

Tinha de parar com aquela paranoia. O seu mundo estava feito em estilhaços e ela não precisava de mais problemas.

Só que não estava habituada a ser rejeitada assim, sem despertar interesse nenhum a um homem. Em geral, a reação era a oposta. O corpo dela nunca falhara no que dizia respeito a atrair as atenções dos homens. Não que fosse algo que encorajasse – ela trabalhava num banco, por amor de Deus. O seu cabelo era do tom de castanho mais comum que se podia encontrar e o seu rosto não era incrivelmente belo, apesar da pele excecionalmente boa que herdara da mãe e da sua natureza alegre que, normalmente, lhe colocava um sorriso nos lábios. Portanto, não deveria estar surpreendida que um homem que podia escolher a mulher que quisesse não mostrasse qualquer interesse por ela.

Mas a dor era a mesma.

Pensa, ordenou-se a si mesma. Mas era difícil, encurralada naquele pântano de emoções, a ser desprezada por um homem que a enfeitiçava tanto.

– Quero um advogado – conseguiu ela dizer.

– Porquê? – perguntou Vittorio, arqueando soberanamente uma sobrancelha, como um deus.

– Esta demissão é injusta. Vocês estão a tratar-me como se fosse uma criminosa, quando essas fotos é que são ilegais. Elas foram tiradas num spa e sem o meu consentimento. Não são selfies, portanto como poderia tê-las enviado ao Kevin Jensen? Ou a qualquer outra pessoa? Foi a mulher dele quem me recomendou que fosse àquele spa para tratar da minha dor nas costas!

Vito olhou de relance para o computador, revendo mentalmente as imagens que seriam excitantes caso fizessem parte de uma conversa privada entre um casal. Por longos segundos, enquanto admirava as fotos, ficou hipnotizado, contra a sua própria vontade, e teve de forçar-se a desviar a atenção daquela figura sensual e focar-se noutro facto: aquilo era uma bomba lançada diretamente contra o banco que era o sustento e a base da sua extensa família.

Mas as fotos não eram selfies. Isso era verdade. Ele achava que fora Jensen a tirá-las.

Pelos vistos, Nadine interpretou a distração dele como uma deixa para voltar às fotos. Ela começou a abrir o computador portátil.

– Queres parar de mostrar isso aos outros, sua maluca? – disse Gwyn.

– Vamos manter o profissionalismo – disparou Nadine.

– Como reagirias se estivesses no meu lugar? – retorquiu Gwyn.

Gwyn Ellis não era o que ele esperava. Havia uma certa postura americana nela que neutralizava um pouco do poder da femme fatale que surgira no ecrã. Ele sentira o impacto esperado da sua sexualidade feminina ao entrar na sala. A mesma sensação de quando ela, certa vez, lhe sorrira no átrio.

Teve de fingir que não tinha reparado nela, mas nada poderia suprimir todo aquele charme. O charme daquele corpo que não consistia apenas nos seios redondos e firmes que sobressaíam sob o casaco justo, ou as ancas que imploravam pelas mãos de um homem, antes de estas deslizarem para aquele traseiro deslumbrante e apetitoso que ele fantasiava acariciar. Regra geral, não prestava atenção a joelhos, mas os dela eram bonitos.

Por um breve instante, imaginou-se a segurá-los afastados.

Ela era uma mulher muito marcante. De ombros tensos e postura defensiva, mas com uma estatura mediana e umas curvas suaves que anunciavam ao reino animal que ela era, indubitavelmente, uma fêmea em idade fértil e irresistivelmente pronta.

Ela despertava o macho dentro dele, fazia correr o sangue nas veias da fera que ele tentava suprimir a todo o custo.

Reações viscerais como luxúria eram indulgências que ele só se permitia em doses controladas. Aquele não era o momento certo e, a julgar pela reação dele, aquela também não era a mulher certa. Correr riscos alucinadamente era especialidade do primo dele. Vito controlava ferozmente a sua sede de sangue, muito embora uma parte dele ansiasse pela excitação de entregar-se àquela tempestade perfeita de química para ver se conseguia sobreviver.

Ele voltou a atenção para o presente e ouviu Nadine a desferir um gancho certeiro a Gwyn.

– Eu nunca iria para a cama com um homem casado. Isso nunca aconteceria comigo.

– Quem disse que eu dormi com o Kevin Jensen? – desafiou Gwyn, enfurecida. – Quem? Quero nomes.

Estava tão indignada. Aquela não era a reação de uma mulher que posara para um amante, correndo o risco de ser exposta, mas sim de uma mulher à beira de perder o controlo, reagindo a uma catástrofe com uma histeria quase incontida.

– A esposa disse que dormiste com ele. Ou que queres dormir. É óbvio – interveio Oscar Fabrizio. – Já que foi ela quem publicou estas fotos imundas na internet depois de as ter descoberto no telemóvel dele. Tens ido almoçar e jantar com ele.

Vito achou aquele ataque interessante. Ele já tinha chamado a atenção de Paolo, há algumas semanas, para certas suspeitas que envolviam o gerente das contas sem fins lucrativos. A suspeita de que a novata estaria envolvida, facilitando, surgiu naturalmente.

– O Kevin queria ver-me, fazer as nossas reuniões, digo… – esclareceu rapidamente Gwyn – longe do escritório. – Ela estava visivelmente aturdida, olhando suplicantemente para Vito. – Ele é um cliente. Não tive outra opção senão aceitar os pedidos dele.

Vito tinha de dar o braço a torcer. A excelência do atendimento ao cliente era um pilar da Donatelli International. Se um cliente do calibre de Jensen queria ser atendido no domicílio, os funcionários tinham de aceitar.

– Não tirou as fotos? – pressionou ele.

– Não!

– Assim sendo, elas não estão nesse telemóvel? – Ele apontou para o aparelho que ela segurava com todas as forças.

Gwyn tinha-se esquecido de que tinha o telemóvel. Levava-o sempre consigo quando saía da sua secretária e tinha-o posto no modo de silêncio antes da reunião. Agora, ela encarava-o, surpreendida por ver ali o aparelho. Pelo menos podia dizer com confiança:

– Não, não estão.

– Permite-me que eu confirme? – Ele estendeu a mão.

Aparentemente, era um pedido razoável, mas, oh, santo Deus, não. Havia algo ali que era mais do que embaraçoso. Algo que tornaria a situação pior… Muito pior.

Ela sabia que o seu rosto estava a ganhar os contornos de uma expressão de culpa, mas não podia evitá-lo.

As narinas dele abriram-se e o maxilar inferior projetou-se. Os raios da morte eram disparados pelos olhos dele e diziam que ela teria sorte se fosse apenas demitida.

– Este telemóvel é meu – balbuciou ela, tentando não se deixar intimidar. Se não tivesse sido já tão ultrajada, não teria sido tão veemente, mas teriam de pô-la KO se lhe quisessem tirar o telemóvel das mãos. – Este aparelho é da empresa, mas não tem o direito de vasculhá-lo.

– Esse aparelho pode deixá-la livre de suspeitas? – O olhar dele mergulhou no olhar de culpa dela.

Gwyn não conseguia esconder a perturbação e o ressentimento por estar sob os holofotes.

– A minha privacidade já foi invadida o suficiente.

Ela estava nua. Na internet. Ela imaginava que toda a gente naquele prédio estivesse a olhar para as fotos naquele mesmo instante. Os homens a dizerem coisas imundas, sugestivas. As mulheres a avaliarem se a barriga dela era flácida ou não, se Gwyn tinha celulite, dizendo que ela era demasiado magra ou demasiado alta ou algo que fizesse com que se sentissem bem com o seu próprio corpo.

Gwyn queria esconder-se e chorar.

Tudo o que ela conseguia pensar era em como tinha trabalhado tanto para não ser atirada de um lado para o outro pela vida como a mãe. Esforçava-se sempre por ser confiante, autónoma, por ter o controlo do seu próprio futuro.

Respira, ordenou ela. Não penses nisso. Caso contrário, ir-se-ia abaixo. De verdade.

– Acho que já temos a nossa resposta – disse Fabrizio impiedosamente.

Ela estava a começar a odiar aquele homem. Gwyn não era do tipo que odiava. Fazia de tudo para dar-se bem com toda a gente. Era uma pessoa feliz, que sempre acreditara que a vida era curta demais para drama e conflitos. Ser a primeira a pedir desculpas tornava-a uma pessoa melhor; tinha acreditado sempre nisso. Mas duvidava que algum dia fosse perdoar aquelas pessoas pela forma como a estavam a tratar.

Ouviu-se um zumbido abafado e Nadine olhou para o seu próprio telemóvel.

– A imprensa está a chegar para a conferência de imprensa. Temos de fazer uma declaração.

A imprensa? Gwyn passou por Fabrizio e foi até à janela.

O escritório de Nadine ficava mesmo a meio do prédio. A multidão reunida na entrada com câmaras era como formigas a saírem de um formigueiro em revolta. Lá em baixo, as coisas estavam piores do que no nascimento de um bebé da realeza.

Ela engoliu em seco, sentindo novamente o estômago às voltas.

Kevin Jensen era um ícone, um herói atual e internacional que voava até locais de catástrofes para oferecer a sua assistência no terreno. Qualquer pessoa com meio cérebro via que explorava acontecimentos de partir o coração à frente das câmaras para aumentar as doações e autopromover-se, mas o aspeto positivo era que levava socorro a situações terríveis. Ele fazia o trabalho necessário para ajudar os aflitos.

Mas, ultimamente, Gwyn vinha a pôr em questão a forma como ele gastava parte dessas doações chorudas.

Era isto que ela iria ganhar? Descrédito global, conducente à demissão?

Ela abraçou-se. Estas coisas não aconteciam a pessoas comuns. Ou aconteciam?

Gwyn baixou os olhos, procurando uma rota de fuga. Ela nem sequer podia voltar para o apartamento arrendado em Milão. Como iria voltar para os Estados Unidos? E mesmo que conseguisse, e depois? Iria procurar o padrasto em busca de abrigo? Quem iria contratá-la após aquele tipo de notoriedade?

Ela tinha-se transformado exatamente naquilo que tentara tanto não ser: um fardo. Uma sanguessuga.

Oh, Deus… Oh, Deus. As paredes em redor da compostura dela estavam a começar a rachar e a ruir, espalhando o peso da pressão para os ombros e braços.

Nadine falava enquanto digitava:

– …digamos que o banco não tinha conhecimento dessa relação pessoal e que o funcionário será demitido…

– O nosso cliente afirmou não ter conhecimento das fotos – interveio Fabrizio.

Gwyn virou-se para ele.

– E a funcionária afirma estar a ser alvo de um voyeur, de um vendedor de pornografia on-line e de uma esposa vingativa.

Nadine parou apenas para lançar-lhe um olhar severo.

– Espero realmente que não fales com a imprensa.

– E eu espero realmente que saibam que vou arranjar um advogado. – Era uma ameaça vazia. As economias dela eram muito modestas. Muito. Embora adorasse pensar que o irmão iria ajudá-la, sabia que não podia contar com isso. Ele também tinha uma imagem corporativa a zelar.

A maneira como Vittorio Donatelli continuava a demonstrar hostilidade deixou-a com vontade de rastejar para dentro de um buraco e morrer.

– Há quanto tempo trabalhas nesta empresa? – perguntou Nadine.

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– Você só vai sair daqui quando eu permitir. – O tom dele era implacável, fazendo o seu coração afundar no peito vazio enquanto outra parte dela se erguia desafiadoramente, pronta para atacá-lo e dar cabo dele para poder sair dali. Ela era o animal ferido perfeito, prestes a fugir do perigo.

– Confirma que as fotos pertencem a um dos nossos funcionários – disse ele a Nadine. – Não temos comentários, por motivos legais e por questões de privacidade. Diz aos repórteres que abandonem o prédio e chama os seguranças para te ajudarem. Envia uma declaração similar a todos os nossos funcionários. Acrescenta um aviso de que quem for visto a falar com a imprensa, ou a ver as fotos num equipamento ou nas dependências da empresa, corre o risco de ser demitido. Oscar, preciso de um relatório completo a detalhar como te chegaram as fotos.

– O signor Jensen entrou em contato comigo esta manhã…

– Aqui não. – Vittorio foi até à porta quando alguém bateu. – No meu escritório. Fique aqui – disse ele por cima do ombro para Gwyn, como se ela fosse um cão que estava prestes a deixar sozinho em casa enquanto ia trabalhar. Ele acompanhou os outros até ao corredor e fechou a porta.

– Certo, percebi – resmungou Gwyn no silêncio da sala de Nadine, abraçando-se com tanta força que quase sufocava.

Uma dor insidiosa deslizou para dentro dela como uma cobra, contorcendo-se em volta dos órgãos, apertando-lhe o coração e os pulmões, fechando-lhe a garganta. Ela cobriu o rosto, tentando esconder-se da terrível realidade de que toda a gente estava a ver o corpo dela nu, acreditando que ela tinha ido para a cama com um homem casado.

Ela podia viver com os outros a olharem para o corpo dela. Ou quase. Isso não era novo, de qualquer forma. Mas era uma boa pessoa. Não mentia, roubava ou seduzia homens, especialmente os casados! Era conservadora na forma como vivia a vida.

A pressão sob as maçãs do rosto, no nariz e nos olhos estava a tornar-se insuportável. Ela tentou aliviá-la pressionando as palmas das mãos sobre o rosto, mas um gemido de angústia estava a formar-se no seu peito. Um soluço ricocheteou como uma bola de flippers e foi parar-lhe à garganta.

Não podia desmoronar-se, lembrou-se ela. Não ali. Ainda não. Tinha de sair dali quanto antes. Ia ser um pesadelo, mas tinha de fazê-lo de cabeça erguida.

Cerrando os dentes, ela segurou a maçaneta e começou a abrir a porta.

Um homem corpulento de fato e com cabelo curto estava parado de costas para a porta. Um segurança? Ele agarrou a maçaneta e impediu-a de sair. Ela conseguiu ver que ele usava uma espécie de fone no ouvido.

Attendere qui, per favore. – Espere aqui, por favor.

Ela estava tão chocada que permitiu que ele lhe puxasse a porta da mão, deixando-a fechada dentro do escritório de Nadine.

A sala estava a começar a parecer muito claustrofóbica. Ela foi novamente até à janela e viu que a multidão de jornalistas tinha aumentado. Não conseguia ver se Nadine estava a falar com eles. A sua visão estava enublada. Ela fungou, sentindo o peso de tudo o que estava a acontecer tão profundamente que teve de ir até à cadeira mais próxima e deixar-se cair.

Por mais que as suas mãos pressionassem, não conseguiria acalmar a pressão que sentia nos olhos.

A porta abriu-se novamente, alarmando-a e fazendo-a virar a cabeça repentinamente.

Ele estava de volta.