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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2017 Dani Collins

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma aposta arriscada, n.º 89 - maio 2019

Título original: Xenakis’s Convenient Bride

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-013-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

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Prólogo

 

 

 

 

 

Stavros Xenakis atirou as suas fichas de vinte mil euros para a mesa, menos satisfeito do que se sentia habitualmente depois de um desafio, embora não se devesse aos seus companheiros de jogo nem à sua mão medíocre.

Sebastien Atkinson, seu amigo há muitos anos, organizara a celebração habitual posterior à descarga de adrenalina. Só estavam os quatro, como era habitual. Muitos iam aos eventos de desportos extremos, mas só Antonio Di Marcello e Alejandro Salazar tinham tanto dinheiro como Sebastien e Stavros e a mesma capacidade de apostar naquele nível.

Stavros não era um snobe como o avô, mas era difícil considerar os outros como iguais. Aqueles homens eram iguais a ele e era por isso que gostava de estar na sua companhia. Aquela noite não era uma exceção. Enquanto bebiam um uísque Macallan 1946, continuavam excitados, depois de terem desafiado a morte nessa manhã.

Então, porque estava tão inquieto?

Examinou mentalmente o seu exercício de salto de esqui, em que descera uma montanha a esquiar pela ladeira até chegar à beira de um precipício para saltar para o vazio, voltar a cair na parte inferior da ladeira, continuar a esquiar, ultrapassando curvas perigosas, e voltar a saltar.

Fora de uma exigência física semelhante à dos desafios anteriores, ainda que, provavelmente, tivesse sido o mais temerário. E vivera cada momento, que era a sua forma particular de meditar.

Esperava eliminar a frustração que o perseguia, mas não fora assim. Deixara-a de lado durante algumas horas, mas voltava a corroê-lo.

Sebastien olhou para ele do outro lado da mesa, sem dúvida, para tentar adivinhar se estava a fazer bluff.

– Como está a tua esposa? – perguntou Stavros.

– Bem e, certamente, é uma companhia melhor do que tu. Porque estás tão sério esta noite?

– Ainda não ganhei. – Como estava entre amigos, contou-lhes o resto. – E o meu avô ameaça deserdar-me se não me casar em breve. Mandei-o passear, mas…

– A tua mãe – interveio Alejandro.

– Exatamente.

Todos conheciam a sua situação. Fazia o que o avô queria pela mãe e pelas irmãs. Não podia renunciar à sua herança porque lhes custaria a delas.

Mas assentar? O avô tentara limitá-lo desde os doze anos e, ultimamente, exigia um herdeiro.

Stavros não o aceitava e, por isso, enfrentava o idoso novamente. Normalmente, conseguia evitar que o obrigasse a seguir o caminho que desejava, mas ainda não encontrara uma rota alternativa própria. Era algo que o mortificava, sobretudo, quando o avô controlava o conjunto de empresas farmacêuticas da família.

Embora Stavros procurasse sempre o confronto, a sua personalidade conseguira grandes sucessos para a Dýnami. Estava mais do que disposto a ter o controlo. Uma esposa e filhos constituíam um fardo desnecessário, mas o avô pensava que demonstrariam que era «maduro» e «responsável».

Stavros não sabia de onde o idoso tirara a ideia de que não era ambas as coisas. Aumentou a aposta para cem mil euros, apesar de a sua mão não ter melhorado. Perdeu-os depressa.

Jogaram um pouco mais e, depois, Sebastien perguntou:

– Não vos parece que passamos demasiado tempo a contar o nosso dinheiro e a pensar em coisas superficiais em vez de fazermos algo mais significativo?

Antonio lançou um punhado de fichas e disse a Alejandro:

– Quatro copos e já está a filosofar.

– Falo a sério.

Sebastien era o único multimilionário dos quatro que não herdara uma fortuna. Fora criado por uma mãe solteira com o dinheiro do subsídio de desemprego, num país onde a herança familiar e os títulos valiam mais do que a conta bancária. Era alguns anos mais velho do que os outros e isso dava-lhe o direito de agir como mentor. Não receava dar a sua opinião e poucas vezes se enganava. Todos o ouviam quando falava, mas era verdade que ficava filosófico quando bebia demasiado.

– Ao nosso nível, são números numa página, pontos num marcador. Como contribui para as nossas vidas? O dinheiro não traz felicidade.

– Mas proporciona alguns substitutos muito agradáveis – afirmou Antonio.

Sebastien fez uma careta.

– Como os teus carros, Antonio? A tua ilha privada, Alejandro? Nem sequer usas esse barco de que estás tão orgulhoso, Stavros. Compramos brinquedos caros para jogar jogos perigosos, mas enriquecem-nos a vida? Alimentam-nos o espírito?

– O que propões? – perguntou Alejandro, enquanto se livrava de uma carta e a substituía por outra. – Que vivamos com os budistas na montanha? Que aprendamos o significado da vida? Que renunciemos aos bens terrestres para procurar a clareza interior?

– Vocês não resistiriam duas semanas sem o apoio da vossa fortuna e do vosso apelido. A vossa existência dourada impede-vos de ver a realidade.

– E tu? – desafiou-o Stavros, livrando-se de três cartas. – Vais dizer-nos que voltarias a estar sem um cêntimo, como antes de ganhares a tua fortuna? Passar fome não é ser feliz. É por isso que és um canalha rico.

– Pensei em doar metade da minha fortuna para criar um fundo de busca e resgate. Nem todos têm amigos que podem desenterrá-los de uma avalanche com as próprias mãos.

Sebastien sorriu, mas os outros não o imitaram.

No ano anterior, Sebastien quase morrera durante um dos desafios que ele e os amigos se impunham. Stavros continuava a ter pesadelos em que revivia esses minutos terríveis. Acabara com os dedos congelados, mas cavara de forma frenética para salvar Sebastien, incapaz de ver um homem a morrer novamente. Um homem cuja vida valorizava.

Sentiu náuseas ao recordá-lo e bebeu um gole de uísque para as eliminar.

– Falas a sério? – perguntou Alejandro. – Mas quanto é? Cinco mil milhões?

– Não podemos levá-lo connosco. – Sebastien encolheu os ombros com despreocupação. – A Monika está de acordo, mas estou a pensar nisso. – Inclinou-se para a frente com o sorriso travesso que esboçava sempre quando os desafiava para se atirarem à água de uma falésia ou para alguma outra ação descabida. – Proponho-vos uma coisa: Fá-lo-ei se passarem duas semanas sem os cartões de crédito.

– E quando começaríamos? Todos temos responsabilidades – recordou-lhe Alejandro.

Depois de uma longa pausa, Sebastien inclinou a cabeça.

– Muito bem, tratem dos vossos assuntos, mas estejam prontos para quando vos telefonar para passarem duas semanas no mundo real.

– Vais mesmo apostar metade da tua fortuna? – perguntou Alejandro.

– Se tu apostares a tua ilha e algum outro brinquedo. Eu digo-vos quando e onde.

– Muito bem. Conta comigo – afirmou Stavros.

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Quatro meses e meio depois…

 

Ela flutuava na piscina na concha de uma amêijoa gigante cor de marfim. O desenho geométrico cor-de-rosa e verde do fato de banho contrastava com os membros ágeis e dourados. O cabelo preto espalhava-se pelos ombros e algumas madeixas flutuavam na água. Usava óculos de sol e as unhas dos pés pintadas de vermelho.

Estava a dormir profundamente.

Enquanto Stavros observava como o fato de banho lhe realçava os seios e lhe marcava as ancas, antes de se perder entre as suas coxas, excitou-se. Fantasiou com atirar-se para a piscina e aproximar-se dela para a abraçar, como se fosse um antigo deus a roubar uma ninfa, e possuí-la no sofá de vime que estava à sombra, atrás da cortina de água do extremo oposto da piscina.

O único som no jardim rodeado de muros altos era o da cascata, que emanava da beira do muro coberto de hera que servia de teto para a zona do bar. O barulho da água amorteceu o suspiro de Stavros ao pousar a caixa de ferramentas.

Ergueu-se e deu outra olhadela.

Talvez fazer o papel de operário de manutenção de piscinas não fosse assim tão mau.

Na noite anterior, amaldiçoara Sebastien com veemência num apartamento de solteiro minúsculo, de ambiente carregado e sem ar condicionado.

O seu desafio das duas semanas começara e o seu novo lar era por cima de um café. O cheiro era brutal. Não sabia o que era pior, se abrir a janela ou fechá-la. Deixara-a aberta enquanto comparava o que tinha ao seu dispor com a fotografia de Antonio de há duas semanas.

Pelo menos, graças ao amigo, sabia o que esperar do desafio. Como tinham enviado Antonio para Milão, Stavros pensou que o enviariam para a Grécia. E ali estava.

Não se importava de perder o iate. Além disso, o grande gesto de Sebastien era algo que ele também conseguia fazer. Atirara-se de tantas falésias e aviões que não devia ter hesitado ao sair do ferryboat que o levara à ilha em que nascera.

Contudo, hesitara.

E sentira-se um covarde.

Obrigara-se a desembarcar e a dirigir-se para o apartamento, onde, tal como Antonio, descobrira que lhe tinham proporcionado um telemóvel pré-histórico e duzentos euros. Porém, enquanto Antonio recebera roupa quente, ele recebera uns calções.

Supostamente, teria de viver duas semanas sem a sua fortuna e a sua reputação, mas parecia que também perderia a dignidade. Pelo menos, o fato de banho não era como essas tangas tão populares nas praias europeias. O uniforme era grosseiro: Uns calções às riscas brancas e amarelas com uma t-shirt amarela a condizer.

Stavros leu o logótipo impresso nela, em grego e inglês, e sentiu-se ofendido em ambas as línguas: Zante, Manutenção de Piscinas. Sebastien dissera-lhe para deixar tudo em ordem em casa e tirar férias e mandara-o trabalhar na manutenção de piscinas.

No telemóvel, tinha três números de contacto: Os de Sebastien, de Antonio e de Alejandro. Enviara uma fotografia do que havia no seu apartamento a Antonio, com uma mensagem:

«Isto é a sério?»

Antonio respondera:

«Se o resultado se parecer com o meu, ainda te esperam muitas surpresas.»

Antonio descobrira que tinha um filho. Que surpresa maior podia haver?

Seria um milagre se Stavros tivesse um filho na ilha, já que se fora embora aos doze anos e, nessa altura, só beijara uma rapariga. Ao chegar aos Estados Unidos, comportar-se de forma arriscada transformara-se na regra. Com catorze anos, perdera a virgindade com uma rapariga mais velha do que ele e da sua escola, que gostava de pintar os olhos com uma risca preta e os lábios de vermelho-escuro. Gostava dos rapazes mais jovens do que ela, interessados em aprender a agradar a uma mulher. Os seus preferidos eram os que procuravam confusões e ele era um deles.

Um ano depois, conquistara a secretária do avô e a ama que cuidava da irmã mais nova. Não se orgulhava disso, mas também não o lamentava. Naquele tempo, o sexo fora uma das poucas coisas que o faziam feliz.

Ter sexo com a mulher da piscina tornaria a situação desse dia muito mais suportável. Dos catorze dias, de facto.

Voltou a sentir dúvidas. Aquela aposta não consistia simplesmente em fingir ser uma pessoa normal durante duas semanas. Sebastien deixara-lhe um bilhete:

 

 

«Suponho que te lembres da conversa que tivemos no ano passado, quando vieste visitar-me enquanto recuperava do acidente da avalanche. Abriste uma garrafa excelente de um uísque escocês de cinquenta e cinco anos em minha honra. Volto a agradecer-te.

Disseste-me, então, que o facto de teres perdido o teu pai te dera forças para cavar na neve e salvar-me a vida. Lembras-te de que também me contaste como te tinha incomodado que o teu avô te levasse para Nova Iorque e te obrigasse a responder quando usavas o teu nome americano? Acho que o que verdadeiramente querias dizer era que não te parecia que merecesses ser o herdeiro dele.»

 

 

Sebastien reprovara Stavros por não valorizar a família e a herança, já que ele não gozava dessas vantagens. No bilhete, continuava, dizendo:

 

«Vou conceder-te o teu desejo. Durante as duas próximas semanas, Steve Michaels, com toda a sua riqueza e a sua influência, não existirá. Serás Stavros Xenakis e trabalharás para a Zante, Manutenção de Piscinas. Tens de começar amanhã, às seis da manhã, a três quarteirões daqui.

Antonio aguentou as duas semanas, por isso o primeiro terço dos meus cinco mil milhões de dólares irá para o fundo de busca e resgate. Faz o mesmo, Stavros. Poderias salvar uma vida. E usa este tempo para fazer as pazes com o passado.

Sebastien»

 

Stavros ficou acordado até mais tarde do que devia, em parte, por causa do jet-lag, mas, sobretudo, porque estava a pensar em como podia livrar-se daquela aposta. Além disso, não conseguia dormir num quarto em que estava tanto calor, por isso, deu voltas na cama individual dura. Finalmente, aceitou a sua sorte e adormeceu.

Mais cedo do que tinha de se levantar, o sol acertou-lhe nos olhos e uns camiões estacionaram por baixo da janela aberta do quarto.

Zangado, comeu uma tigela de cereais com leite e, a caminho do «emprego», comprou café.

O seu chefe, Ionnes, deu-lhe uma prancheta que continha um mapa, vários desenhos e os detalhes do trabalho. Deu-lhe umas chaves e apontou para um camião cheio de provisões e ferramentas para as descarregar, antes de entrar.

Chegados a esse ponto, Stavros podia ter comprado um bilhete de volta, mas deixara os cartões de crédito em Nova Iorque, seguindo as instruções de Sebastien. Superara todos os desafios do seu mentor com sucesso desde o seu primeiro ano de universidade e nenhum deles o vencera.

Ao guiar-se pelo mapa, reconheceu a estrada que subia e descia pelas colinas, apesar dos dezoito anos decorridos. A sua tristeza foi aumentando com cada quilómetro que avançava, assim como a pressão que sentia no peito.

Talvez não estivesse a desafiar a morte naquela aposta, mas enfrentar a perda do pai era ainda mais difícil.

Ficou cinco minutos sentado no camião, parado no caminho particular da moradia, tentando afastar as lembranças tristes e reparando nas mudanças da casa em que vivera com a família até um barco afundado modificar radicalmente as suas vidas.

A villa estava bem cuidada, mas era modesta para o estilo de vida a que estava habituado. Fora a casa dos sonhos da mãe quando se casara. Era uma jovem da vila de pescadores que havia a sul da ilha e insistira que o marido usasse aquela casa como base de operações. Era um lugar onde podia estar com os filhos e dedicar-lhes tempo. Dizia-lhe que era um viciado no trabalho e que estava a perder as suas raízes, já que passava demasiado tempo nos Estados Unidos, e a empresa familiar, em expansão crescente, dominava a sua vida.

A villa não era nova quando a compraram e precisara de reparações. O pai pedira a Stavros para arranjar a entrada principal enquanto a mãe e as irmãs plantavam buganvílias que, agora, estavam carregadas de flores cor-de-rosa que realçavam as paredes brancas.

As lembranças eram tão vívidas e dolorosas enquanto estava ali sentado que teve vontade de fugir de tudo.

Mas para onde iria? Voltaria para casa do avô para continuar a culpá-lo e envergonhá-lo? Voltaria para continuar a desempenhar o papel de suplente, que detestava, mas que representava porque o pai não estava lá para ser a estrela?

Voltou a amaldiçoar Sebastien, antes de dar uma olhadela aos detalhes do trabalho para saber o que tinha de fazer ali. Não vinha limpar a piscina, mas reparar os ladrilhos à volta. O dono da casa dar-lhe-ia as indicações pertinentes.

Suspirou de desagrado. Depois de passar dois anos a suportar as ordens do avô, que agora exigia que se casasse, estava farto de que lhe dissessem o que tinha de fazer.

Ninguém respondeu à campainha do portão, portanto, entrou e desceu uns degraus que levavam a um pátio rodeado de muros brancos, exceto por um dos lados, que dava para o mar. A sua chegada não despertara a Vénus do seu sono.

Voltou a olhar para ela. Se era casada, era um troféu para o marido. Porém, não tinha aliança.

«O dono da casa», escrevera Ionnes. Era uma pena que semelhante beleza estivesse reservada para o cliente do chefe.

Na vida normal, isso não o teria impedido de ir atrás dela. Mas recordou que, agora, tinha outra vida.

Baixou-se para salpicar a mulher.

 

 

As gotas de água no rosto de Calli fizeram com que acordasse, assustada. Tentou erguer-se, mas, como estava na piscina, perdeu o equilíbrio, inclinando-se para um lado. Os óculos de sol deslizaram pelo nariz e esticou os braços para tentar agarrar-se a alguma coisa. Caiu para a água. Que susto!

Fora obra de Ophelia, pensou.

Percebendo onde estava, saiu para a superfície enquanto balbuciava:

– Estás de castigo. Vai para o teu quarto.

Contudo, não era Ophelia que a observava de uma altura considerável ao lado da piscina, era um guerreiro alto e imponente, com o sol atrás dele. Calli teve de se esforçar para o ver bem. A t-shirt e os calções amarelos não tiravam méritos à sua figura poderosa. De facto, a t-shirt ajustava-se como uma armadura dourada aos ombros e ao peito e acentuava o bronzeado dos braços musculados.

Não lhe via os olhos, mas sentiu o peso do seu olhar. Esqueceu-se de respirar e sentiu calor, apesar de estar na água.

O calor espalhou-se pelo corpo, esse calor perigoso que aprendera a ignorar por instinto de sobrevivência. Porém, dessa vez, não desapareceu, por isso Calli teve um mau pressentimento. Aquele homem hipnotizara-a, apanhara-a num momento de fascínio sexual que parecia destinado a durar eternamente.

Ele cruzou os braços e disse, com humor:

– Eu sigo-a.

Para o quarto, o dele, pensou ela. Não era tanto um convite como uma ordem.

Pensou que estava a rir-se dela, o que fez com que se sentisse vulnerável. Não fisicamente ameaçada, mas em perigo a um nível mais profundo, onde residia o seu ego; onde o seu coração fraturado estava numa prateleira alta para que ninguém conseguisse voltar a magoá-lo.

Cheia de ansiedade, limpou os olhos para o ver bem, para saber quem era e entender porque lhe causara semelhante efeito. Na t-shirt, tinha o nome da empresa encarregada da manutenção da piscina, mas não o vira antes.

– Não o ouvi entrar.

– É evidente. Deitou-se tarde ontem à noite?

– Sim. – De repente, percebeu que não podia ter sido Ophelia a acordá-la. Adormecera na piscina porque voltara de madrugada depois de deixar a menina em casa dos avós, em Atenas. Conduzira de noite e dormira no carro enquanto esperava pela saída do ferryboat.

Takis não estava em casa. Não havia ninguém senão ela e aquele bárbaro.

– Estive de viagem. – Aproximou-se da escada. – Sabia que viriam trabalhadores e não queria deixar de falar com eles por estar a dormir lá dentro. Onde está o Ionnes?

– Encarregou-me do trabalho e disse-me que tenho duas semanas.

– É verdade, já que haverá uma festa depois.

Continuava a sentir-se alarmada, um alarme que triplicou quando subiu as escadas e a sombra dele caiu sobre ela. Agarrara no robe que deixara na cadeira e esticava-lho como um cavalheiro.

No entanto, não era um cavalheiro. Não sabia o que era, mas tinha a clara sensação de que era alguém importante, não uma pessoa normal como ela.

Calli agarrou no robe e tentou pôr os braços nas mangas largas. Porque tremia? Ai! Ophelia não escolhera bem. Porque era transparente? Era um presente de aniversário. Quando Calli o abrira, parecera-lhe muito feminino, mas só se fechava à altura do umbigo, por isso servia mais para provocar do que para cobrir, já que deixava o decote e as coxas a descoberto.

Ele percebeu e examinou-a da cabeça aos pés sem se alterar. Não era a primeira vez que alguém olhava para ela assim, mas os habitantes da ilha sabiam que não lhe interessavam ou consideravam-na intocável. No caso dos turistas, fingia não saber inglês se quisesse rejeitar uma insinuação.

Em qualquer dos casos, era fácil livrar-se dos homens. Mas não naquele dia. Sentia o seu olhar, que a virava do avesso.

Sentiu-se indefesa. Porquê? Estava imunizada contra os olhares dos homens.

Aquele era incrivelmente bonito. O facto de estar ao seu nível não a fazia sentir-se menos intimidada. Era grande e forte e, ao ver o seu rosto com clareza, ficou com falta de ar. Não se barbeara nem se penteara, mas as suas maçãs do rosto e as suas sobrancelhas pretas eram perfeitas. Porém, não foi a beleza esculpida do seu rosto que a atraiu mais, foi o orgulho feroz e a masculinidade sem concessões que projetava.

Foi o desejo, não dissimulado, que brilhou nos seus olhos castanhos quando observaram os dela, a hipótese arrogante de conseguir possuí-la.

Ter-se-ia apercebido da reação que causara nela? O sorriso que esboçou indicou que era assim.

Calli não conseguia desviar o olhar da boca larga, dos lábios sensuais e do queixo firme.

– Diga-me o que deseja – pediu ele. – Estou ao seu serviço.

Voltou a sentir uma onda de calor, que contrastava com a frieza do fato de banho.

«Espero que pense que é o frio que me endurece os mamilos», pensou ela. Mas era ele. E sabê-lo assustou-a.

Recuou um passo, tentando fugir da sua aura sexual, e quase caiu na piscina. Agarrou-a pelos braços para o evitar. Foi uma ação cavalheiresca, que a paralisou e a deixou a tremer. O que se passava?

Tentou erguer o queixo e observá-lo.

– Solte-me.

– Se é o que deseja. – Esperou uns segundos e soltou-a.

Tinha o coração tão acelerado que quase levou a mão ao peito para o acalmar. Em vez disso, cerrou os punhos e engoliu em seco. Tinha a boca seca.

– Tem um sotaque estranho. De onde é?

Fez uma careta, por isso, ela deduziu que mentia quando lhe disse:

– Nasci aqui.

– Na Grécia ou nesta ilha? – Calli conhecia todos os habitantes. – Não o conheço. Como se chama?

– Stavros. Vivi no estrangeiro desde os doze anos.

Percebeu de onde procedia o sotaque do seu grego fluido.

– É americano. – Estava de férias, portanto.

O sangue parou de correr pelas veias e os ossos gelaram. Não, outra vez não. Não e não. Não importava quão bonito era. Não.

Como se ele tivesse percebido uma acusação no seu tom de voz, deitou a cabeça para trás, ofendido.

– Sou grego.

Calli sabia que tinha um preconceito, embora não fosse assim tão mau, já que gostava de conversar com os turistas americanos casados e com as mulheres americanas. Queria ir aos Estados Unidos; a Nova Iorque, para ser precisa.

Só desprezava os americanos que achavam que podiam tratar as mulheres da ilha como se fossem um parque de atrações. Não importava de onde vinham. Chegavam, agiam e iam-se embora. As feridas de Calli continuavam abertas para o demonstrar.

O homem que lhe arrebatara tudo, até a reputação, era americano, portanto, era o crime de que acusava aquele homem.

– Está aqui para arranjar os ladrilhos da piscina – recordou-lhe, com brusquidão. – Será melhor fazê-lo.