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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Leslie Kelly

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Luas-de-mel, n.º 643 - maio 2020

Título original: Relentless

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1348-298-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Ei! Sue! Quero sair daqui! – gritou Pamela Bradford. Não conseguia enxergar nada. Não conseguia saber se as suas amigas ainda estavam por perto. – Sue? Sue, eu mudei de ideias. Perdi a coragem. Não posso seguir em frente com o plano.

– Sim, podes.

Não era a voz de Sue, a doce e tímida criatura apaixonada por romances e novelas. Não. A voz tinha uma nota de cinismo e de autoridade. Era a voz inconfundível de uma outra amiga que também seria sua dama de honor.

– Oh, LaVyrle, por favor, tira-me daqui. Foi uma ideia bizarra. Peter não irá gostar disto.

– Não irá gostar? O homem irá consumir-se em chamas quando te vir a sair do bolo praticamente nua. Se isso não acontecer, pelo menos não casarás enganada. Antes descobrir hoje do que amanhã à noite, quando seria tarde demais. – Houve um breve silêncio. – Agora, trata de ficar quieta. Nós ainda temos de tirar os convidados dele da festa.

Pamela suspirou. Conhecia LaVyrle. Nada do que dissesse iria comovê-la. Com Sue, a história seria diferente. Sue era a sua melhor amiga desde criança. Ela tê-la-ia ajudado a sair daquela estrutura metálica coberta de massa de bolo num piscar de olhos. Mas enquanto LaVyrle e Amanda, as suas colegas de trabalho, estivessem por perto, Sue não teria oportunidade de a libertar.

Pamela ergueu os olhos para verificar se havia alguma brecha que indicasse a tampa por onde ela poderia sair. Assustou-se ao perceber que o papelão que protegia a abertura estava a ceder sob o peso do gelado da cobertura… Pensou destruir o bolo e sair de uma forma ou de outra, mas o medo de ser apanhada por algum colunista e de ir parar às páginas dos jornais foi suficiente para a deter.

– Oh, céus! – murmurou Pamela. Estava dobrada em duas, com os joelhos firmemente apoiados sob o queixo. Tinha comichão suas costas, mas nada podia fazer. – Nunca imaginei que usassem mesmo gelado neste tipo de bolo.

Quando ela já estava a ser colocada dentro do bolo, LaVyrle contou-lhe que muitos homens ficavam tão excitados com a surpresa que muitas vezes lambiam o gelado que ficava no corpo do seu presente!

Pamela engoliu em seco.

– Não deverá ser o caso de Peter – apressou-se a tranquilizá-la a doce e optimista Sue. – Todas nós sabemos que ele não iria fazer isso contigo.

– Pois eu acho que Peter deveria lambê-la até à última gota – retorquiu Amanda. – A menos que ele não goste de mulheres… Quero dizer, de doces!

Dentro do bolo, Pamela sentiu o estômago a dar uma volta.

– Por favor, tirem-me daqui!

– Ora, por favor! – protestou LaVyrle. – Depois de todo o trabalho que tivemos, resolves acobardar-te no último momento?

– Sim! – confessou Pamela. – Estou com tanto medo que serei capaz de qualquer coisa só para sair daqui!

Uma gargalhada foi a prova de que a sua súplica fora ouvida mas ignorada. Pamela mordeu os lábios. Como é que se fora meter numa enrascada daquelas?

Examinou-se mais uma vez e sentiu um arrepio. O minúsculo biquini vermelho de lantejoulas, preso por um fio dental na parte de trás, seria uma provocação extra. E também as sandálias de salto alto da mesma cor.

Nunca sentira tanto frio na sua vida. A base de metal que lhe servia de protecção, assim como para o bolo, parecia-lhe feita de gelo. Que maneira tão idiota de passar a última noite de solteira! De onde é que ela tirara aquela ideia?

No fundo, sabia a resposta. Fora aquela voz interior que a convencera a testar Peter. Há tempos ela era perseguida por uma pergunta: porque seria que Peter não tentara, nem sequer por uma vez, tornar o relacionamento mais íntimo? Por que razão se restringira apenas a beijos durante os seis meses do noivado?

E porque é que eu me vou casar com ele?, perguntou Pamela a si mesma.

A resposta veio rápida: «porque ele conquistou-me, apesar de não me ter seduzido fisicamente». Nenhum outro homem correspondia com tanta perfeição ao seu ideal. Eles gostavam das mesmas coisas. Tinham opiniões idênticas a respeito de quase tudo, desde a política até aos insignificantes sabores de gelado. Jamais discutiam, muito menos brigavam. Depois de testemunhar tantas discussões entre os seus pais, Peter era uma espécie de oportunidade de paz para a vida dela.

O relacionamento entre eles era firme e estável. Peter era tão perfeito que, além de ter sido o seu único namorado, defendera-a na escolha de emprego quando o pai insistiu que procurasse outro trabalho.

Os pais não se conformavam que ela trabalhasse numa instituição que cuidava de jovens carentes e que ficava a alguns quilómetros de distância da sua casa. Para eles era absurdo que ela trocasse as reuniões no clube, os jogos de golfe e os passeios de iate por um bando de adolescentes revoltados.

Peter compreendia-a e consolava-a. Ele satisfazia as suas necessidades emocionais e intelectuais. Quanto ao aspecto físico… Por que raios é que ele não lhe tocava? Porque é que não a acariciava nem lhe sussurrava palavras sensuais ao ouvido, como faziam todos os homens?

Na verdade, Pamela não era experiente em assuntos de sexo. Pelo contrário. Mas tinha idade suficiente para saber que as pessoas apaixonadas tinham de sentir desejo umas pelas outras. E ela insinuou isso a Peter por mais de uma vez. Disse-lhe que o desejava.

Que Peter era um homem normal, ela sabia-o bem. Conhecia a sua reputação dos tempos em que frequentava o escritório do seu pai. Ao menos até começar a namorá-la, Peter trocava de mulher como trocava de camisa. Não seria assim ainda mais estranho, portanto, o seu desinteresse actual pelo sexo?

Embalada pelo seu temperamento romântico, Pamela tinha planeado uma lua-de-mel idílica num resort exclusivo para casais em Lake Tahoe. Ela vira um anúncio do local numa revista especializada para noivas e decidiu-se no mesmo instante. Pretendia fazer uma surpresa a Peter. Tinha a certeza de que ele iria gostar do local. Quem, afinal, poderia preferir ficar numa cabana frente a um lago cedida por um amigo a desfrutar de um paraíso de luxo e sensualidade?

A não ser que Peter não desejasse esquecer as inibições e o mundo exterior. Nesse caso, ela poderia até dar meia volta e terminar com a viagem de núpcias antes mesmo de começar o casamento.

Pamela zangou-se consigo mesma. Não devia dar asas à sua imaginação. Como podia ter dúvidas daquelas sobre o homem com quem se iria casar? Mais do que isso: como é que ela se deixara embalar na bebida a ponto de ter desabafado com as amigas a esse respeito? Sue ficara estupefacta. Amanda balançou a cabeça, sem poder acreditar no que escutava. E LaVyrle chegou a afirmar que ele só podia ser homossexual.

– Não, ele não é gay – disse Pamela a si mesma, consolando-se naquele instante de desventura. O problema é que não lhe ocorria outra explicação mais razoável para a falta de apetite sexual do seu noivo.

E o problema é que casamento sem sexo não poderia nunca resultar! Disso Pamela tinha a certeza absoluta. Amar era bom, era maravilhoso, e ela amava Peter. Que mulher não amaria um homem bonito, atencioso e bem sucedido como Peter, que concordava com tudo, que fazia tudo para lhe agradar?

Por mais que Pamela tentasse afastar da sua mente as imagens do casamento dos seus pais, não o conseguia. Com eles tinha sido bem diferente. Embora já estivessem juntos há trinta anos, os dois ainda estavam apaixonados um pelo outro, apesar das brigas que mantinham com alguma regularidade.

– Muito bem, Pamela – LaVyrle trouxe-a de volta ao presente. – Estamos de regresso e prontas para dar continuidade ao nosso plano. Agora, Sue irá à suite onde está a decorrer a festa de despedida de solteiro de Peter e pedirá para o chamarem. Assim que ela o distrair, Amanda e eu fingiremos que somos funcionárias do hotel e mandaremos todos saírem da sala por causa da tal ameaça de bomba. Sue, então, pedirá a Peter para não se afastar.

– Não foi bem isso que combinámos! – protestou Pamela. – Esse é o plano mais idiota que já ouvi em toda a minha vida! Como é que Sue pode esperar que Peter fique no local se uma bomba pode estar prestes a explodir?

– Ela dir-lhe-á, querida, sem que ninguém o ouça, que a bomba és tu!

Pamela suspirou.

– Continuo a achar que esse é o pior plano que vocês poderiam inventar.

– Tarde demais, minha cara. A engrenagem está em funcionamento. Prepara-te. Voltarei dentro de dez a quinze minutos.

– Por favor, LaVyrle! – Pamela tornou a implorar. – Ao menos certifica-te de que todos os amigos de Peter estarão bem longe antes de eu sair daqui.

Principalmente porque os amigos de Peter eram funcionários do seu pai, pensou Pamela. Isso seria uma humilhação excessiva para ela.

– Voltamos já, Pammy – prometeu Sue. – Vais ver que dará tudo certo.

Sozinha, no quarto ao lado da suite onde estava a acontecer a festa, Pamela recordou o início da brincadeira.

O bolo recheado com uma rapariga tinha sido encomendado pelos amigos de Peter. Por coincidência, LaVyrle conhecia essa rapariga e sabia que ela dançava e fazia strip-tease em festas. Ao tomar conhecimento dos receios de Pamela sobre a futura vida sexual com o seu noivo, LaVyrle teve a ideia de pedir à garota que deixasse Pamela substituí-la.

Um forte tremor apoderou-se do corpo de Pamela. Ela estava assustada. E se Peter apanhasse um choque quando a visse a sair do bolo e se decepcionasse, em vez de ficar inflamado em desejos?

 

 

Ken McBain estava sentado num canto da suite com um copo de cerveja na mão. Não parava de se perguntar o que estava a fazer naquela festa de despedida de solteiro. Não era amigo de nenhum dos convidados e nem sequer ia com a cara do noivo. Aquilo era uma autêntica perda de tempo! Poderia ter aproveitado muito mais aquela noite de sexta-feira se tivesse feito outro programa.

De repente, quando estava a tomar o último gole, alguém do departamento de pessoal da Bradford Investimentos dirigiu-se ao noivo.

– Lembras-te destas moças, Peter?

Atrás do sujeito estavam duas loiras, muito maquilhadas, muito extravagantes e aparentemente desejosas de diversões nocturnas. Ken observou o sorriso do noivo e a maneira como ele engoliu quase uma caneca inteira de cerveja. No mesmo instante, decidiu levantar-se para se despedir. Ele jamais pagara para ter uma mulher. Não tolerava esse tipo de situações.

Dois outros convidados, que ele também reconheceu lá do escritório, onde estava a desenvolver um projecto havia duas semanas, fizeram o mesmo. Por isso, passou a olhá-los com outra admiração. Ao mesmo tempo, o seu conceito sobre o noivo, que já era baixo, caiu para menos de nada.

Ele não conseguia acreditar que uma mulher jovem como Pamela Bradford, cujo sorriso o enfeitiçara desde o momento em que a vira numa fotografia sobre a secretária do pai, pudesse querer casar com um sujeito mulherengo e abominável como Peter Weiss. Afinal, linda como era, ela podia ter qualquer homem com um simples estalar de dedos.

Ou Pamela era tola, o que lhe parecia altamente improvável, ou Peter não se lhe revelara como realmente era. O que também parecia estranho. Se ele conhecia os casos escandalosos do sujeito após duas semanas em Miami, como é que essas histórias nunca tinham chegado aos ouvidos dela? Ao menos aquela, que toda a gente conhecia na Bradford Investimentos, de Peter ter sido apanhado na casa de banho dos homens com uma das secretárias?

A não ser que Peter tivesse começado a andar na linha desde o começo do noivado. Isso seria mais do que compreensível. Que homem poderia desejar outra mulher tendo Pamela Bradford na sua vida?

Ken deixou a festa com raiva de Peter. Preferia não ter olhado quando Peter se pôs a desatar com os dentes o nó que amarrava a parte de cima do biquini de uma daquelas loiras. Ao mesmo tempo, não entendia por que não conseguia tirar Pamela Bradford do seu pensamento. Eles nem sequer tinham sido apresentados ainda.

Gostaria de lhe poder dizer que se preocupava com ela porque era um cavalheiro, ao contrário do seu noivo. Mas não era só isso. Aquela jovem mexia com ele. Nenhuma outra o atraíra tanto em toda a sua vida. Via a sua foto todos os dias sobre a mesa do seu cliente. Ouvia o pai dela murmurar o seu nome com amor e orgulho dezenas de vezes.

Escutava-o a queixar-se, recordando os seus pedidos para que a filha não fosse trabalhar com adolescentes problemáticos em Miami, quando podia encontrar ocupações mais próximas à residência da família em Fort Lauderdale.

Viu-a pela primeira vez ao sair da sala do pai. A porta do seu escritório estava aberta e ele não conseguiu deixar de ouvir a discussão entre eles. Quando ela saiu, batendo com a porta, ele ficou impressionado com a sua beleza. Alta e esguia, com o corpo moldado nos lugares certos, olhos grandes e castanhos que brilhavam como fogo, e cabelos também castanhos com reflexos loiro-avermelhados, ela era simplesmente deslumbrante.

Ken não conseguiu fazer outra coisa senão levantar-se e ir até à porta, seguindo-a com os olhos até que ela chegasse ao elevador. Ela andava de cabeça erguida e os seus passos eram firmes como os do pai. Os lábios eram cheios e sensuais. Pareciam feitos para beijar.

Mas não foi apenas a Pamela que ele viu que o impressionou tanto assim. Foi também a Pamela que conheceu através dos olhos de Jared Bradford, como uma jovem voluntariosa, mas dona de um coração de ouro.

E, agora, ela estava prestes a casar-se com um crápula que não a merecia. Ele era um beberrão mulherengo que acabara de engolir outra caneca de cerveja no meio de gritos e aplausos imbecis, enquanto erguia os braços como se estivesse orgulhoso por ter vencido algum tipo de concurso.

Assim que encontrasse o seu casaco, deixaria o hotel. Lembrava-se de o ter deixado numa cadeira perto da porta. Agora, nem a cadeira se encontrava por lá.

Ele estava a olhar em redor quando viu a porta a ser aberta. Um dos amigos do noivo, muito sorridente, anunciou uma surpresa. Curioso, Ken ficou a aguardar que ele entrasse.

A surpresa era um imenso bolo, desses que comportam uma pessoa dentro. E estava a falar!

Quem quer que fosse a mulher que tinha sido contratada para animar ainda mais o noivo, não estava preparada para fazer a sua apresentação. Ele estava a ouvi-la a dizer que aquilo era um engano e que o bolo precisava de ao ser devolvido lugar de onde fora tirado.

O homem, que Ken acreditava chamar-se Dan, não atendeu ao seu pedido. No meio de sonoras gargalhadas, sugeriu que ela se preparasse para o grande momento que todos os presentes estavam a aguardar.

Ela não se manifestou mais.

– Talvez ela esteja à espera de uma música para sair e dançar – disse alguém.

Dan abriu ligeiramente a parte de cima do bolo e tocou na rapariga com um dedo. Um segundo depois, tirou a mão aos gritos.

– Ela mordeu-me!

Uma garota contratada para entreter homens em despedidas de solteiro tinha mordido um convidado? Ken balançou a cabeça e suspirou. Já tinha permanecido tempo demais naquela festa. Tinha de encontrar mesmo o seu casaco e sair logo dali.

Entrou na cozinha que servia a suite e encontrou uma pilha de casacos sobre o balcão. Enquanto tentava encontrar o dele, continuou a prestar atenção ao que estava a acontecer do outro lado.

O bolo tinha sido levado para junto de Peter. Ao contrário dos outros, que insistiam para a rapariga aparecer, Peter parecia satisfeito com a loira sentada no seu colo.

– Não há pressa – declarou. – Temos a noite inteira pela frente.

– Trata de aaproveitar bem – aconselhou um dos amigos. – Esta será a tua última noite de liberdade.

Ken ainda não tinha conseguido encontrar o casaco. Pensou em desistir e ir-se embora, mas lembrou-se de que estava sem as chaves do carro e sem os seus documentos.

Aborrecido e acalorado, enrolou as mangas da camisa e estava a servir-se de uma gasosa gelada quando ouviu Peter responder:

– Tenho a certeza de que não sentirei nenhuma falta de liberdade no momento em que puder colocar as mãos na minha adorável esposa!

Aquelas palavras chocaram Ken mais do que qualquer outro evento da noite. Era quase uma declaração de que a noiva ainda era virgem apesar do noivo ser um viciado em sexo.

A loira no seu colo pôs-se a rir.

– Isso significa que tu ainda não…?

– Não. O papá ficaria zangado se a princesa não fosse virgem para a noite de núpcias. Espero que o meu sacrifício tenha valido a pena.

Embora Pamela não estivesse ali e não pudesse desconfiar do que estava a ser dito a seu respeito, Ken sentiu-se revoltado e constrangido por ela. Como é que um homem podia falar naqueles termos sobre a mulher com quem se iria casar? Principalmente diante de pessoas que trabalhavam para o pai dela?

– O que quiseste dizer com «o papá ficaria zangado?» – indagou um dos presentes que nada tinha de discreto.

Mais embriagado do que sóbrio, Peter não hesitou em responder:

– Digamos que nós temos um acordo de cavalheiros. Uma noiva tradicional, uma cerimónia perfeita, e uma gravidez atrás da outra para manter a princesa em casa, longe dos jovens dos bairros sociais.

Ken sentiu um nó no estômago. Ao que tudo indicava, Pamela estava a ser vítima de uma conspiração entre o próprio pai e o noivo para a afastar de sua carreira. Por mais que ele respeitasse Jared Bradford, não concordava com a sua atitude.

– Vocês não podem imaginar como tem sido difícil para mim cada vez que me despeço da minha noiva. Ela olha-me com aqueles olhos provocantes e eu sou obrigado a procurar alguma companhia para me aliviar antes de ir para casa.

De repente, Ken notou que o bolo estava a balançar. Antes que qualquer um pudesse antecipar o que estava para acontecer, a tampa saltou e Pamela Bradford surgiu como uma deusa irada.