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PERSEGUIDA

 

 

(UM MISTÉRIO DE RILEY PAIGE – LIVRO 5)

 

 

BLAKE PIERCE

 

Blake Pierce

 

Blake Pierce é autor da série bestseller de mistérios RILEY PAGE, que inclui sete livros (e ainda há mais por vir). Ele também é o autor da série de mistério MACKENZIE WHITE, que inclui cinco livros (mais estão previstos); da série de mistério AVERY BLACK, composta por quatro livros (mais por vir); e da nova série de mistério KERI LOCKE.

Um leitor ávido e fã de longa data dos gêneros de mistério e suspense, Blake adora ouvir as opiniões de seus leitores. Então, por favor, sinta-se à vontade para visitar o site www.blakepierceauthor.com e manter contato.

 

 

Copyright© 2016 Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto como permitido sob o Copyright Act dos Estados Unidos de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou meios, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recuperação sem a autorização prévia do autor. Este ebook está licenciado apenas para seu usufruto pessoal. Este ebook não pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se gostava de partilhar este ebook com outra pessoa, por favor compre uma cópia para cada recipiente. Se está a ler este livro e não o comprou ou não foi comprado apenas para seu uso, por favor devolva-o e compre a sua cópia. Obrigado por respeitar o trabalho árduo deste autor. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, locais, eventos e incidentes ou são o produto da imaginação do autor ou usados ficcionalmente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é uma coincidência. Jacket image Copyright GongTo, usado sob licença de Shutterstock.com.

 

 

LIVROS ESCRITOS POR BLAKE PIERCE

 

SÉRIE DE MISTÉRIO DE RILEY PAIGE

SEM PISTAS (Livro #1)

ACORRENTADAS (Livro #2)

ARREBATADAS (Livro #3)

ATRAÍDAS (Livro #4)

PERSEGUIDA (Livro #5)

 

SÉRIE DE ENIGMAS MACKENZIE WHITE

ANTES QUE ELE MATE (Livro nº1)

ANTES QUE ELE VEJA (Livro nº2)

 

SÉRIE DE ENIGMAS AVERY BLACK

MOTIVO PARA MATAR (Livro nº1)

MOTIVO PARA CORRER (Livro nº2)

 

SÉRIE DE MISTÉRIO KERI LOCKE

RASTRO DE MORTE (Livro 1)

 

ÍNDICE

 

 

PRÓLOGO

CAPÍTULO UM

CAPÍTULO DOIS

CAPÍTULO TRÊS

CAPÍTULO QUATRO

CAPÍTULO CINCO

CAPÍTULO SEIS

CAPÍTULO OITO

CAPÍTULO NOVE

CAPÍTULO DEZ

CAPÍTULO ONZE

CAPÍTULO DOZE

CAPÍTULO CATORZE

CAPÍTULO QUINZE

CAPÍTULO DEZASSEIS

CAPÍTULO DEZASSETE

CAPÍTULO DEZOITO

CAPÍTULO DEZANOVE

CAPÍTULO VINTE E UM

CAPÍTULO VINTE E DOIS

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

CAPÍTULO VINTE E QUATRO

CAPÍTULO VINTE E CINCO

CAPÍTULO VINTE E SEIS

CAPÍTULO VINTE E SETE

CAPÍTULO VINTE E OITO

CAPÍTULO VINTE E NOVE

CAPÍTULO TRINTA

CAPÍTULO TRINTA E UM

CAPÍTULO TRINTA E DOIS

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

CAPÍTULO TRINTA E CINCO

CAPITULO TRINTA E SEIS

CAPÍTULO TRINTA E SETE

CAPÍTULO TRINTA E OITO

CAPÍTULO TRINTA E NOVE

CAPÍTULO QUARENTA

CAPÍTULO QUARENTA E UM

CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

 

 

PRÓLOGO

 

O carro em alta velocidade da Agente Especial Riley Paige estilhaçou o silêncio das escuras ruas de Fredericksburg. A sua filha de quinze anos estava desaparecida, mas Riley estava mais furiosa do que assustada. Tinha quase a certeza do local onde se encontrava April – com o seu novo namorado, um rapaz de dezassete anos que tinha desistido da escola chamado Joel Lambert. Riley tinha tentado tudo para interromper aquela relação, mas não tinha conseguido.

Esta noite isso vai mudar, Pensou com determinação.

Estacionou o carro em frente à casa de Joel, uma pequena casa decrépita situada num bairro desagradável. Já lá tinha estado anteriormente, altura em que tinha feito um ultimato a Joel para se afastar da filha. Era óbvio que ele o tinha ignorado.

Não havia uma única luz acesa na casa. Talvez não estivesse ninguém. Ou talvez Riley ali encontrasse algo difícil de suportar. Não importava. Bateu à porta.

“Joel Lambert! Abra a porta!” Gritou Riley.

Seguiram-se alguns momentos de silêncio. Riley bateu novamente à porta. E por fim ouviu alguém a praguejar no interior da casa. A luz do alpendre acendeu-se. Ainda com a corrente, a porta abriu-se ligeiramente. À luz do alpendre, Riley deparou-se com um rosto desconhecido. Era um homem de barba e aspeto deprimido com cerca de dezanove anos.

“O que é que quer?” Perguntou o homem ainda ensonado.

“Estou à procura da minha filha,” Disse Riley.

O homem parecia intrigado.

“Está no lugar errado, minha senhora,” Disse.

Ele tentou fechar a porta, mas Riley deu-lhe um pontapé com tanta força que a corrente se partiu e a porta escancarou-se.

“Ei!” Gritou o homem.

Riley entrou pela casa adentro. A casa estava tal como da última vez que Riley lá estivera – uma confusão horrível repleta de odores suspeitos. O homem era alto e sólido. Riley apercebeu-se da semelhança entre ele e Joel, mas aquele homem não tinha idade para ser pai de Joel.

“Quem é você?” Perguntou Riley.

“Chamo-me Guy Lambert,” Respondeu o homem.

“É irmão de Joel?” Questionou Riley.

“Sim. E quem é você?”

Riley mostrou-lhe o distintivo.

“Agente Especial Riley Paige, FBI,” Disse.

Os olhos do homem abriram-se muito, alarmados.

“FBI? Deve haver algum engano.”

Riley não ficou surpreendida. Da última vez que ali estivera, suspeitara que os pais de Joel não existiam. Não fazia a mínima ideia do que que lhes poderia ter sucedido.

“Onde está a minha filha?” Perguntou Riley.

“Ouça, eu nem sequer conheço a sua filha.”

Riley avançou na direção da porta mais próxima. Guy Lambert tentou bloquear-lhe o caminho.

“Não é suposto ter um mandado de busca?” Perguntou o homem.

 Riley empurrou-o.

“Agora quem dita as regras sou eu,” Rugiu Riley.

Riley entrou num quarto desarrumado. Ninguém estava ali. Abriu outra porta que lhe revelou uma casa de banho nojenta e outra ainda que fazia ligação a um segundo quarto. Ninguém.

E foi então que ouviu uma voz vinda da sala de estar.

“Não se mexa!”

Riley dirigiu-se à sala de estar onde encontrou o seu parceiro, Bill Jeffreys, na porta de entrada. Riley tinha-lhe ligado antes de sair de casa para a ajudar. Guy Lambert estava caído no sofá, desamparado.

“Este tipo parecia estar de saída,” Disse Bill. “Disse-lhe que devia esperar aqui por ti.”

“Onde é que eles estão?” Perguntou Riley. “Onde está o seu irmão e a minha filha?”

“Não faço ideia.”

Riley agarrou-o firmemente pela T-shirt.

“Onde está o seu irmão e a minha filha?” Repetiu.

Quando ele respondeu, “Não sei,”, Riley empurrou-o contra a parede. Bill libertou um som de insatisfação. Não havia dúvida que receava que Riley perdesse o controlo. Mas ela não queria saber.

Já em pânico, Guy Lambert atirou uma resposta.

“Estão mesmo no próximo quarteirão desta rua. 1334.”

Riley largou-o. Sem dizer mais uma palavra, saiu da casa com Bill no seu encalço.

Riley pegou na lanterna e com ela verificava os números das casas. “É por aqui,” Disse ela.

“Temos que pedir ajuda,” Disse Bill.

“Não precisamos de reforços.” Disse Riley enquanto corria pelo passeio.

“Não é isso que me preocupa.” Bill seguia-a.

Dali a instantes, Riley já se encontrava no quintal de uma casa de dois andares. Estava decrépita e obviamente condenada ao abandono, com terrenos vazios em ambos os lados – uma típica barraca para consumidores de heroína. Lembrou-lhe a casa onde um psicopata sádico chamado Peterson a tinha mantido cativa. Peterson tinha-a aprisionado numa jaula e tinha-a torturado com um maçarico de gás propano até ela conseguir fugir e ter rebentado a casa com o propano que ele lá armazenava.

Hesitou por um momento, abalada pela memória. Mas depois recordou-se:

A April está aqui.

“Prepara-te,” Disse a Bill.

Bill pegou na sua lanterna e na arma, e caminharam juntos na direção da casa.

Quando Riley chegou ao alpendre, viu que as janelas estavam vedadas com tábuas. Desta vez, não planeava bater à porta. Não queria dar a conhecer a sua presença a Joel ou a qualquer outra pessoa que estivesse dentro da casa.

Tentou a maçaneta. Rodou mas a porta estava fechada com uma lingueta. Riley sacou a arma e disparou, rebentando dessa forma com o que a impedia de entrar. Rodou novamente a maçaneta e a porta abriu-se.

Apesar da escuridão do exterior, os seus olhos tiveram que se ajustar ao entrar com Bill na sala de estar. A única luz existente provinha de algumas velas que iluminavam um sinistro cenário de lixo e escombros onde estavam incluídos sacos vazios de heroína, seringas e outra parafernália associada à droga. Conseguia ver sete pessoas – duas ou três tentavam pôr-se de pé vagarosamente depois do estrépito que Riley causara, os restantes estavam deitados no chão ou aninhados em cadeiras num estupor induzido pela droga. Todos pareciam devastados e doentes, e as suas roupas estavam sujas e esfarrapadas.

Riley guardou a arma. Não ia precisar dela – ainda não.

“Onde está a April?” Gritou. “Onde está Joel Lambert?”

Um homem que tinha acabado de se levantar disse numa voz nebulosa, “Lá em cima.”

Com Bill no seu encalço, Riley subiu a escadaria escura, apontando a lanterna à sua frente. Conseguia sentir os degraus podres a cederem sob o seu peso. Ela e Bill entraram num corredor no topo das escadas. Viram três entradas, uma das quais dava para uma casa de banho infecta, todas sem portas e visivelmente vazias. A quarta entrada ainda tinha porta e estava fechada.

Riley dirigiu-se à porta. Bill tentou alcançá-la para a impedir de entrar.

“Deixa-me entrar primeiro,” Disse Bill.

Riley passou por ele, ignorando-o, abriu a porta e entrou no quarto.

As pernas de Riley quase colapsaram perante o cenário que viu. April estava deitada num colchão, murmurando “Não, não, não” sucessivamente. April contorcia-se febrilmente enquanto Joel Lambert lutava para lhe tirar a roupa. Um homem com excesso de peso estava próximo, à espera que Joel terminasse a sua tarefa. Uma seringa e uma colher repousavam na vela que tremeluzia na mesa-de-cabeceira.

Riley compreendeu tudo. Joel tinha drogado April quase até à inconsciência e estava a oferecê-la como favor sexual àquele homem repulsivo – quer fosse a troco de dinheiro ou de outra coisa qualquer, Riley não sabia.

Riley sacou da arma e apontou-a a Joel. Era tudo o que conseguia fazer para evitar abatê-lo naquele momento.

“Afasta-te dela,” Disse Riley.

Joel percebeu de imediato o estado em que Riley se encontrava. Levantou as mãos e afastou-se da cama.

Indicando o outro homem, Riley disse a Bill, “Algema este filho da mãe. Leva-o para o carro. Agora já podes pedir reforços.”

“Riley, ouve-me…” A voz de Bill sumiu-se.

Riley sabia o que Bill deixara por dizer. Ele compreendia perfeitamente que tudo o que Riley queria era alguns minutos a sós com Joel. Bill sentiu relutância em permiti-lo.

Ainda com a arma apontada a Joel, Riley olhou para Bill com uma expressão implorativa. Bill anuiu lentamente, dirigiu-se ao homem, leu-lhe os direitos, algemou-o e levou-o para o exterior da casa.

Riley fechou a porta. Depois ficou silenciosamente a fitar Joel Lambert com a arma ainda erguida. Este era o rapaz por quem April se apaixonara. Mas não se tratava de um adolescente qualquer. Estava profundamente envolvido no negócio da droga. Ele tinha usado essas drogas na sua própria filha e tinha tentado vender o corpo de April. Esta pessoa não era capaz de amar ninguém.

“O que é que pensa que vai fazer, senhora chui?” Disse Joel. “Eu tenho direitos, sabe.” E presenteou-a com o mesmo sorriso de gozo que mostrara no seu último encontro.

A arma tremeu ligeiramente na mão de Riley. Ansiava premir o gatilho e rebentar com aquele verme de uma vez. Mas não se podia permitir fazê-lo.

Riley reparou que Joel se esgueirava na direção da mesa de apoio. Era robusto e um pouco mais alto do que Riley.Tentava alcançar um taco de basebol encostado à mesa, obviamente à mão para fins de autodefesa. Riley reprimiu um sorriso sinistro. Parecia que ele ia fazer exatamente aquilo que ela queria que ele fizesse.

“Estás preso,” Disse Riley.

Guardou a arma e pegou nas algemas. Tal como esperava, Joel pegou no taco de basebol e arremeteu-o contra Riley. Ela conseguiu desviar-se do golpe e preparou-se para a próxima investida.

Desta vez Joel ergueu o taco mais alto, pretendendo esmagar-lhe a cabeça com ele. Mas quando o braço desceu, Riley agachou-se e apanhou a extremidade do bastão. Agarrou-o e atirou-o para longe dele. Riley apreciou o olhar de surpresa no rosto de Joel quando perdeu o equilíbrio.

Joel tentou apoiar-se na mesa de apoio para evitar cair. Quando a mão se agarrou à mesa, Riley esmagou-a com o taco. Foi audível o som de ossos a partirem-se.

Joel soltou um grito patético e caiu no chão.

“Sua cabra maluca!” Gritou. “Partiu-me a mão.”

Tentando recuperar o fôlego, Riley algemou-o a um dos pés da cama.

“Não o consegui evitar,” Disse ela. “Tu resististe e eu, acidentalmente, entalei a tua mão na porta. Peço perdão.”

Riley algemou a mão sã ao pé de uma cama. Depois pisou a mão partida e apoiou todo o seu peso nela.

Joel gritou e contorceu-se. Esperneava indefeso.

“Não, não, não!” Gritava.

Ainda com o pé em cima da mão de Joel, Riley agachou-se próximo do seu rosto.

Riley repetiu, zombeteiramente, “’Não, não, não!’ Onde é que eu já ouvi estas palavras? Nos últimos minutos?”

Joel estremecia de dor e horror.

Riley pisou-o com mais força.

“Quem o disse?” Perguntou ela.

“A sua filha… ela disse-o.”

“Disse o quê?”

“’Não, não, não…’”

Riley libertou um pouco a pressão.

“E porque é que a minha filha disse isso?” Perguntou.

Joel mal conseguia falar por entre os violentos soluços que soltava.

“Porque… estava indefesa… e a sofrer. Eu percebo. Eu compreendo.”

Riley retirou o pé. Parecia-lhe que ele tinha percebido a mensagem – pelo menos por agora, embora talvez não de vez. Mas aquilo era o melhor – ou o pior – que podia fazer para já. Ele merecia a morte ou pior ainda. Mas ela não podia ser o instrumento dessa vontade. Pelo menos de uma coisa tinha a certeza: aquela mão nunca mais se recomporia.

Riley deixou Joel algemado e correu para junto da filha. Os olhos de April estavam dilatados e Riley sabia que ela não estava a conseguir vê-la bem.

“Mãe?” Disse April num queixume baixinho.

O som daquela palavra soltou um mundo de angústia em Riley. Desatou a chorar ao começar a ajudar April a vestir-se.

“Vou tirar-te daqui,” Disse entre soluços. “Vai correr tudo bem.”

Mas ao proferir aquelas palavras, Riley só rezava para que fossem verdadeiras.

 

CAPÍTULO UM

 

Riley rastejava na terra num espaço escuro debaixo de uma casa. Escuridão total a rodeava. Perguntava-se porque é que não tinha consigo uma lanterna. Afinal de contas, já tinha estado naquele lugar horrível.

Mais uma vez, ouviu a voz de April a chamá-la na escuridão.

“Mãe, onde estás?”

O desespero apoderou-se do coração de Riley. Ela sabia que April estava presa algures no meio daquela maléfica escuridão. E estava a ser torturada por um monstro horrível.

“Estou aqui,” Disse Riley. “Estou a ir. Continua a falar para te encontrar.”

“Estou aqui,” Disse April.

Depois a voz ecoou na escuridão.

“Estou aqui… Estou aqui… Estou aqui…”

Já não era apenas uma voz e já não era apenas uma rapariga. Muitas raparigas estavam a pedir a sua ajuda. E Riley não fazia a mínima ideia de como as encontrar a todas.

 

Riley acordou do seu pesadelo por alguém que lhe apertava a mão. Adormecera a segurar na mão de April e agora a filha começava a acordar. Riley sentou-se e olhou para a filha deitada na cama.

O rosto de April ainda estava algo pastoso e pálido, mas a sua mão estava mais forte e já não estava fria. Tinha muito melhor aspeto do que no dia anterior. A noite que passara na clínica fizera-lhe muito bem.

April conseguiu fixar o olhar em Riley. Depois vieram as lágrimas, tal como Riley previra.

“Mãe, e se tu não tivesses chegado?” Disse April com a voz sufocada.

Riley sentiu os olhos a arder. April já tinha feito aquela pergunta vezes sem conta e Riley nem conseguia imaginar a resposta, quanto mais verbalizá-la.

O telemóvel de Riley tocou. Era Mike Nevins, o psiquiatra forense e grande amigo que tinha ajudado Riley em muitas crises pessoais e que mais uma vez a auxiliava nesta.

“Só para saber se está tudo bem,” Disse Mike. “Espero não estar a ser inoportuno.”

Riley ficou feliz por ouvir a voz amigável de Mike.

“De maneira nenhuma, Mike. Obrigada por ligares.”

“Como é que ela está?”

“Melhor, acho eu.”

Riley não sabia o que teria feito sem a ajuda de Mike. Depois de Riley ter libertado April das garras de Joel, teve que recorrer a serviços de emergência, tratamentos médicos e relatórios de polícia. Na noite anterior, Mike tinha conseguido que April fosse admitida no Centro de Saúde e Reabilitação de Corcoran Hill.

Era muito mais agradável do que um hospital. Mesmo com todo o equipamento necessário, o quarto era agradável e confortável. Pela janela, Riley via árvores dispostas em terrenos bem tratados.

Naquele preciso momento, o médico de April entrou no quarto. Riley terminou a chamada assim que o Dr. Ellis Spears, um homem de aspeto bondoso e rosto jovem com algumas brancas, entrou.

Tocou na mão de April e perguntou, “Como te sentes?”

“Não muito bem,” Disse April.

“Bem, tens que dar algum tempo,” Disse ele. “Vais ficar bem. Senhora Paige, posso falar consigo?”

Riley acenou e seguiu-o até ao corredor. O Dr. Spears relanceou alguma informação que tinha na sua pasta.

“A heroína já quase saiu do sistema,” Disse ele. “O rapaz deu-lhe uma dose perigosa. Felizmente, abandona a corrente sanguínea rapidamente. O mais certo é não ter mais sintomas de dependência. O sofrimento por que está a passar agora é mais psicológico do que físico.”

“Ela terá…?” Riley não conseguiu terminar a pergunta.

Felizmente, o médico compreendeu o que ela queria saber.

“Uma recaída ou necessidade da droga? É difícil dizer. O uso da heroína pela primeira vez fá-los sentirem-se magníficos – como nada igual no mundo. Ela não é viciada, mas não é provável que se vá esquecer daquela sensação. Há sempre o perigo de ser atraída para a sensação fantástica que lhe proporcionou.”

Riley percebeu onde o médico queria chegar. A partir daquele momento, era de extrema importância manter April afastada da possibilidade de usar drogas. Era uma perspetiva terrificante. April agora admitia já ter fumado erva e tomado comprimidos – alguns eram analgésicos, opióides muito perigosos.

“Dr. Spears, eu…”

Por um instante, Riley não conseguiu formular a pergunta que tinha em mente.

“Não compreendo o que é que se passou,” Disse por fim. “Porque é que ela faria algo assim?”

O médico sorriu-lhe e Riley imaginou que o Dr. Spears já ouvira aquela pergunta muitas vezes.

“Fuga,” Disse ele. “Mas não estou a falar de uma fuga absoluta da vida. Ela não é esse tipo de consumidora. Na verdade, nem penso que seja uma consumidora por natureza. Tal como todos os adolescentes, tem dificuldade em controlar os seus impulsos. Trata-se unicamente de uma questão de imaturidade do cérebro. Ela gostava da sensação passageira que as drogas lhe davam. Felizmente, não consumiu durante tempo suficiente para sofrer efeitos a longo-prazo.”

O Dr. Spears pensou em silêncio durante um momento.

“A experiência por que passou foi anormalmente traumática,” Disse. “Falo da forma como aquele rapaz a tentou explorar sexualmente. Só essa memória pode ser suficiente para a manter afastada das drogas para sempre. Mas também é possível que o sofrimento emocional seja um perigoso estímulo.”

Riley ficou desanimada ao ouvir aquelas palavras. O sofrimento emocional parecia ser um facto inevitável na sua família por aqueles dias.

“Temos que a vigiar durante alguns dias,” Disse o Dr. Spears. “Depois disso, vai precisar de imensos cuidados, descanso e ajuda psicológica.”

O médico despediu-se e continuou as suas visitas. Riley ficou no corredor, sentindo-se só e preocupada.

Foi isto o que aconteceu à Jilly? Perguntou-se. Poderia a April ter terminado como aquela criança desesperada?

Há dois meses em Phoenix, Arizona, Riley tinha salvado uma rapariga mais nova do que April da prostituição. Tinha-se formado entre as duas um estranho laço emocional e Riley tinha tentado manter o contacto com ela depois de a colocar num abrigo para adolescentes. Mas há alguns dias, Riley fora informada de que Jilly fugira. Impossibilitada de voltar a Phoenix, Riley pediu a ajuda de um agente do FBI. Ela sabia que o homem se sentia em dívida para com ela e esperava obter notícias naquele mesmo dia.

Entretanto, Riley estava onde tinha que estar: a apoiar April.

Quando se encaminhava para o quarto da filha ouviu uma voz a chamar o seu nome no fundo do corredor. Virou-se e viu o rosto preocupado do seu ex-marido Ryan, a ir ao seu encontro. Quando lhe ligara no dia anterior para lhe comunicar o sucedido, ele estava em Minneapolis a trabalhar.

Riley ficou surpreendida por vê-lo. A filha de Ryan encontrava-se no fundo da sua lista de prioridades – mais abaixo do seu trabalho como advogado e muito mais abaixo da liberdade que agora gozava enquanto homem solteiro. Riley até duvidara que ele aparecesse.

Mas agora Ryan apressou-se a juntar-se a Riley e abraçou-a com o rosto ensombrado pela preocupação.

“Como é que ela está? Como é que ela está?”

Ryan não parava de repetir a pergunta, tornando difícil a Riley responder.

“Vai ficar bem,” Disse Riley finalmente.

Ryan afastou Riley e olhou para ela com uma expressão angustiada.

“Peço desculpa,” Disse. “Peço tanta, tanta desculpa. Tu tinhas-me dito que a April estava com problemas, mas eu não ouvi. Eu devia ter estado aqui para vos apoiar.”

Riley não sabia o que dizer. As desculpas não eram propriamente o estilo de Ryan. Na verdade, esperava que ele desatasse a responsabilizá-la pelo que tinha acontecido. Essa sempre tinha sido a sua forma de lidar com crises familiares. Aparentemente, o que acabara de acontecer a April era demasiado terrível a ponto de o afetar. Com certeza que já tinha falado com o médico e soubera da terrível história completa.

Ele fez um gesto com a cabeça na direção da porta.

“Posso vê-la?” Perguntou.

“Claro que sim,” Disse Riley.

Riley ficou no corredor e observou Ryan a abeirar-se da cama de April, a abraçá-la com força durante algum tempo. Pareceu-lhe ver as costas a agitarem-se com um único soluço. Depois ele sentou-se ao lado de April e segurou-lhe na mão.

April recomeçou a chorar.

“Oh, papá, fiz uma asneira tão grande,” Disse. “Andava com um rapaz…”

Ryan tocou-lhe nos lábios para a silenciar.

“Shh. Não precisas de me dizer nada. Está tudo bem.”

Riley sentiu um nó na garganta. De repente, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que os três eram uma família. Seria uma coisa boa ou má? Seria um sinal de que melhores tempos viriam ou outro desenvolvimento rumo à desilusão e à mágoa? Não sabia.

Riley observou da porta Ryan a afagar carinhosamente o cabelo da filha e April a fechar os olhos e a descontrair. Era uma cena comovente.

Quando é que tudo se desmoronou? Pensou Riley.

Deu por si a desejar poder voltar atrás no tempo até algum momento crucial em que cometera algum erro terrível e fazer tudo de forma diferente para que nada daquilo alguma vez tivesse acontecido. E ela tinha a certeza de que Ryan pensava da mesma forma.

Era um pensamento irónico e ela sabia-o. O assassino que prendera há poucos dias era um homem obcecado por relógios que criava poses e dispunha as vítimas como ponteiros do mostrador de um relógio. E agora ali estava ela com os seus próprios anseios sobre o tempo.

Se eu tivesse conseguido manter o Peterson afastado dela, Pensou Riley, estremecendo.

Tal como Riley, April tinha sido aprisionada e torturada por aquela monstro sádico e o seu maçarico. Desde essa altura que April sofria de SPT.

Mas a verdade era que Riley sabia que o problema era mais amplo.

Talvez se o Ryan e eu nunca nos tivéssemos divorciado, Pensou.

Mas como podiam tê-lo evitado? Ryan era distante e desligado enquanto marido e enquanto pai, para além de ser mulherengo. Não que ele fosse o único culpado. Também ela tinha cometido os seus erros. Nunca tinha conseguido encontrar o equilíbrio entre o trabalho no FBI e a maternidade. E não se tinha apercebido dos muitos sinais de aviso em relação a April.

Sentiu-se ainda mais triste. Não, ela não se lembrava de um momento específico onde pudesse ter mudado tudo. A sua vida fora demasiado plena de erros e oportunidades falhadas. Para além disso, ela sabia perfeitamente que não podia recuar no tempo. Não valia a pena desejar o impossível.

O telemóvel tocou e Riley foi para o corredor. O seu coração bateu com mais força quando se apercebeu que a chamada era de Garrett Holbrook, o agente do FBI que andava à procura de Jilly.

“Garrett!” Disse, atendendo a chamada. “O que se passa?”

Garrett respondeu no seu característico tom monótono.

“Tenho boas notícias.”

De imediato, Riley começou a respirar mais confortavelmente.

“A polícia encontrou-a,” Disse Garrett. “Tinha estado na rua a noite toda sem dinheiro ou lugar para ir. Foi apanhada a roubar numa loja de conveniência. Estou com ela aqui na esquadra de polícia. Eu pago a caução, mas…”

Garrett parou de falar. Riley não gostou do som daquela palavra, “mas.”

“Talvez seja melhor falares com ela,” Disse ele.

Uns segundos mais tarde, Riley ouviu a voz familiar de Jilly.

“Olá, Riley.”

Agora que o pânico a abandonara, Riley demonstrou o quão zangada estava.

“Não me venhas com ‘olás’. Onde é que tinhas a cabeça para fugir assim?”

“Não vou voltar para lá,” Disse Jilly.

“Vais sim.”

“Por favor, não me obrigues a voltar para lá.”

Riley não respondeu de imediato. Não sabia o que dizer. Ela sabia que o abrigo onde Jilly fora acolhida era um lugar bom onde era acarinhada. Riley tivera a oportunidade de conhecer alguns elementos do pessoal, pessoas muito prestáveis.

Mas Riley também compreendia como é que Jilly se sentia. Da última vez que tinham falado, Jilly tinha-se queixado que ninguém a queria, que os pais adotivos nem a consideravam.

“Não gostam do meu passado,” Dissera Jilly.

Aquela conversa acabara mal com Jilly desfeita em lágrimas a implorar a Riley para a adotar. Riley não conseguira explicar as milhares de razões que tornavam essa hipótese impossível. Esperava que aquela conversa não acabasse da mesma forma.

Antes de Riley conseguir pensar no que dizer, Jilly disse, “O teu amigo quer falar contigo.”

Riley ouviu outra vez a voz de Garrett Holbrook.

“Não para de dizer isso – não vai voltar para o abrigo. Mas tenho uma ideia. Uma das minhas irmãs, a Bonnie, está a pensar em adotar. Tenho a certeza de que ela e o marido adorariam acolher a Jilly. Isto é se a Jilly…”

Garrett foi interrompido pelos gritinhos de satisfação de Jilly que não parava de gritar, “Sim, sim, sim!”.

Riley sorriu. Era mesmo de uma coisa daquelas que ela precisava naquele momento.

“Parece-me fantástico, Garrett,” Disse. “Diz-me como corre. Muito obrigado pela tua ajuda.”

“Sempre que precisares,” Disse Garrett.

E terminaram a chamada. Riley dirigiu-se novamente à porta do quarto e viu que Ryan e April estavam a conversar despreocupadamente. De repente, tudo parecia correr tão melhor. Apesar das suas falhas e das de Ryan, a verdade era que tinham dado a April uma vida muito melhor do que aquela que muitas outras crianças tinham.

E precisamente naquele momento, Riley sentiu uma mão no ombro e ouviu uma voz.

“Riley.”

Virou-se e viu o rosto amigo de Bill. Ao afastar-se da porta para falar com ele, Riley não conseguiu evitar olhar para o seu parceiro e para o ex-marido repetidamente. Mesmo no seu atual momento de desespero, Ryan aparentava ser o advogado de sucesso que era. O seu aspeto e modos suaves abriam-lhe portas em todo o lado. Bill, como tantas vezes percebera, parecia-se mais consigo. O seu cabelo escuro já tinha brancas e era mais robusto e amarrotado do que Ryan. Mas Bill era competente nas suas áreas de aptidão e fora muito mais fiável na sua vida.

“Como é que ela tem passado?” Perguntou Bill.

“Melhor. O que se passa com o Joel Lambert?”

Bill abanou a cabeça.

“Aquele bandido é cá uma peça,” Disse ele. “Mas está a falar. Diz que conhece uns tipos que fizeram rios de dinheiro com jovens e ele pensou tentar. Não demonstra sinais de remorso, é um sociopata cuspido e escarrado. De qualquer das formas, vai ser condenado e vai passar algum tempo dentro. Mas é capaz de fazer um acordo.”

Riley ficou contrariada. Odiava aqueles acordos e aquele em particular era perturbador.

“Sei o que pensas a esse respeito,” Disse Bill. “Mas parece-me que ele vai despejar tudo e podemos conseguir prender uma data de filhos da mãe. Isso é bom.”

Riley concordou. Era bom saber que algo de positivo se podia retirar deste acontecimento terrível. Mas havia uma coisa que tinha que falar com Bill e não sabia muito bem como dizê-lo.

“Bill, quanto ao meu regresso ao trabalho…”

Bill deu-lhe uma palmadinha no ombro.

“Não é preciso dizeres nada,” Disse Bill. “Não podes trabalhar em casos durante algum tempo. Precisas de uma pausa. Não te preocupes, eu compreendo. E toda a gente vai compreender em Quantico. Tira o tempo que precisares.”

Bill olhou para o relógio.

“Desculpa ter que me ir embora, mas…”

“Vai,” Disse Riley. “E obrigada por tudo.”

Abraçou Bill e ele foi-se embora. Riley ficou no corredor, a pensar no futuro próximo.

“Tira o tempo que precisares,” Dissera-lhe Bill.

Isso podia não ser fácil. O que acabara de acontecer a April era uma recordação de todo o mal que andava à solta. O trabalho dela era impedir que acontecessem o máximo de coisas negativas que conseguisse. E se havia uma coisa que aprendera na vida, era que o mal nunca dormia.

 

CAPÍTULO DOIS

 

Sete semanas mais tarde

 

Quando Riley chegou ao gabinete da psicóloga, encontrou Ryan sozinho numa sala de espera.

“Onde está a April?” Perguntou.

Ryan fez um gesto de cabeça na direção da porta fechada.

“Está com a Dra. Sloat,” Disse, parecendo desconfortável. “Tinham qualquer coisa para falar a sós. Depois devemos entrar e juntar-nos a elas.”

Riley suspirou e sentou-se numa cadeira próxima. Ela, Ryan e April tinham passado muitas horas emocionalmente exigentes nas últimas semanas naquele local. Aquela era a última sessão com a psicóloga antes da pausa para as férias de Natal.

A Dra. Sloat tinha insistido que toda a família participasse na recuperação de April. Tinha sido árduo para todos eles, mas para alívio de Riley, Ryan tinha participado de forma incondicional no processo. Viera a todas as sessões e até pusera o trabalho em segundo plano para ter mais tempo disponível. Hoje fora buscar April à escola.

Riley perscrutava o rosto do ex-marido enquanto ele olhava fixamente para a porta do gabinete. Parecia um homem mudado. Não há muito tempo, era tão desatento que chegara ao ponto de ser negligente enquanto pai. Sempre insistira que todos os problemas de April eram da responsabilidade de Riley.

Mas o consumo de drogas de April e a sua quase introdução no mundo da prostituição forçada, mudara algo em Ryan. Depois da sua permanência na clínica de reabilitação, April já estava em casa com Riley há seis semanas. Ryan visitava-a com frequência e estivera presente no Dia de Ação de Graças. Por vezes até pareciam uma família normal.

Mas Riley não parava de se lembrar de que eles nunca tinham sido uma família normal.

Poderia isso agora mudar? Perguntava-se Riley. Quero que mude?

Riley sentia-se dividida, até um pouco culpada. Há muito que tentava aceitar o facto de que o seu futuro não incluiria Ryan. Talvez até houvesse outro homem na sua vida.

Sempre existira uma atração entre ela e Bill. Mas também se digladiavam e discutiam de vez em quando. Para além disso, a sua relação profissional era suficientemente exigente sem a parte romântica.

O seu vizinho bondoso e atraente, Blaine, parecia coadunar-se melhor com as suas necessidades, sobretudo porque a sua filha Crystal e April eram grandes amigas.

Ainda assim, em momentos como aquele, Ryan quase parecia o mesmo homem por quem ela se tinha apaixonado há tantos anos. Que rumo tomava a sua vida? Não sabia.

A porta do gabinete abriu-se e a Dra. Lesley Sloat saiu.

“Agora já podem entrar,” Disse com um sorriso estampado no rosto.

Riley sempre gostara da psicóloga baixinha, robusta e bondosa, e April também gostava muito dela.

Riley e Ryan entraram no gabinete e sentaram-se numas poltronas confortáveis. Estavam de frente para April que estava sentada no sofá ao lado da Dra. Sloat. April sorria debilmente. A Dra. Sloat fez um gesto com a cabeça para ela começar a falar.

“Aconteceu uma coisa esta semana,” Disse April. “É um pouco difícil falar sobre isso…”

A respiração de Riley acelerou e sentiu o coração bater com mais força.

“Está relacionado com a Gabriela,” Disse April. “Talvez ela também devesse aqui estar para falar sobre isto, mas como não está…”

April calou-se.

Riley estava surpreendida. Gabriela era uma mulher Guatemalteca corpulenta de meia-idade que trabalhava para a família há anos. Mudara-se com Riley e April, e era como um membro da família.

April respirou fundo e continuou, “Há alguns dias atrás, ela disse-me uma coisa que eu não vos disse. Mas penso que devem saber. A Gabriela disse que tinha que se ir embora.”

“Porquê?” Articulou Riley.

Ryan parecia confuso. “Não lhe pagas o suficiente?” Perguntou.

“É por minha causa,” Disse April. “Ela disse que não podia continuar. Disse que era demasiada responsabilidade para ela ter que impedir que eu me magoasse ou que me magoassem.”

April parou de falar. Uma lágrima cintilou no canto do olho.

“Ela disse que era demasiado fácil eu esgueirar-me de casa sem que ela se apercebesse. Não conseguia dormir à noite com medo que eu estivesse em perigo. Disse que agora que estou bem novamente, vai-se embora imediatamente.”

Riley ficou alarmada. Ela não sabia que Gabriela pensava dessa forma.

“Pedi-lhe para não ir,” Disse April. “Eu chorei e ela também chorou, mas não consegui que mudasse de opinião e fiquei apavorada.”

April conteve um soluço e limpou os olhos com um lenço.

“Mãe,” Disse April, “Eu cheguei a ajoelhar-me. Prometi que nunca a faria sentir-se assim novamente. Por fim… por fim ela abraçou-me e disse que não se iria embora desde que eu cumprisse a minha promessa. E vou cumprir. Vou mesmo. Mãe, pai, nunca mais vos vou preocupar ou à Gabriela ou a qualquer outra pessoa daquela forma.”

A Dra. Sloat deu uma palmadinha na mão de April e dirigiu um sorriso a Riley e Ryan.

Disse, “O que a April está a tentar dizer é que está a recuperar.”

Riley viu Ryan a tirar um lenço e a limpar os olhos. Raramente o vira chorar. Mas percebia como é que ele se estava a sentir. Ela própria estava comovida. Fora Gabriela – não Riley ou Ryan – a mostrar a luz a April.

Ainda assim, Riley sentiu-se incrivelmente grata por a sua família estar junta e bem no Natal. Ignorou o medo que se esgueirava dentro de si, a pavorosa sensação de que os monstros da sua vida iam transtornar o seu Natal.

 

CAPÍTULO TRÊS

 

Quando Shane Hatcher entrou na biblioteca da prisão no dia de Natal, o relógio de parede indicava que faltavam dois minutos para a hora certa.

Timing perfeito, Pensou.

Dali a alguns minutos ele ia evadir-se.

Estava divertido por ver decorações de Natal penduradas por todo o lado – todas feitas de esferovite, claro, nada duro ou afiado ou que pudesse ser utilizado como corda. Hatcher passara muitos períodos natalícios em Sing Sing e a ideia de tentar evocar o espírito natalício ali sempre lhe parecera absurdo. Quase ria quando via Freddy, o taciturno bibliotecário da prisão, a usar um barrete vermelho de Pai Natal.

Sentado na sua secretária, Freddy virou-se para ele e lançou-lhe um sorriso cadavérico. Aquele sorriso dizia a Hatcher que tudo corria como planeado. Hatcher silenciosamente assentiu com a cabeça e devolveu-lhe o sorriso. Depois Hatcher caminhou entre duas prateleiras e esperou.

Assim que o relógio bateu a hora certa, Hatcher ouviu o som da porta de carregamentos a abrir no extremo oposto da biblioteca. Dali a momentos, o motorista da carrinha surgiu empurrando um grande recipiente de plástico com rodas. A porta fechou-se ruidosamente atrás dele.

“Qué que tens pra mim esta semana, Bader?” Perguntou Freddy.

“O que é que achas que tenho?” Questionou o condutor. “Livros, livros, livros.”

O condutor espreitou rapidamente na direção de Hatcher e depois virou-se. O condutor, como era evidente, estava a par do plano. Daquele momento em diante, tanto o condutor como Freddy trataram Hatcher como se ele não estivesse ali.

Excelente, Pensou Hatcher.

Juntos, Bader e Freddy descarregaram os livros para uma mesa metálica com rodas.

“Que tal um café no comissariado?” Perguntou Freddy ao condutor. “Ou talvez um eggnog quente? Estão servi-lo nesta altura,”

“Parece ótimo.”

Os dois homens conversavam normalmente quando desapareceram pelas portas da biblioteca.