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(UM MISTÉRIO DE RILEY PAIGE—LIVRO #7)

 

 

 

B L A K E   P I E R C E

 

 

 

Blake Pierce

 

Blake Pierce é o autor da série de enigmas RILEY PAGE, com doze livros (com outros a caminho). Blake Pierce também é o autor da série de enigmas MACKENZIE WHITE, composta por oito livros (com outros a caminho); da série AVERY BLACK, composta por seis livros (com outros a caminho), da série KERI LOCKE, composta por cinco livros (com outros a caminho); da série de enigmas PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE, composta de dois livros (com outros a caminho); e da série de enigmas KATE WISE, composta por dois livros (com outros a caminho).

 

Como um ávido leitor e fã de longa data do gênero de suspense, Blake adora ouvir seus leitores, por favor, fique à vontade para visitar o site www.blakepierceauthor.com para saber mais a seu respeito e também fazer contato.

 

Copyright© 2016 Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto como permitido sob o Copyright Act dos Estados Unidos de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou meios, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recuperação sem a autorização prévia do autor. Este ebook está licenciado apenas para seu usufruto pessoal. Este ebook não pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se gostava de partilhar este ebook com outra pessoa, por favor compre uma cópia para cada recipiente. Se está a ler este livro e não o comprou ou não foi comprado apenas para seu uso, por favor devolva-o e compre a sua cópia. Obrigado por respeitar o trabalho árduo deste autor. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, locais, eventos e incidentes ou são o produto da imaginação do autor ou usados ficcionalmente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é uma coincidência. Jacket image Copyright GongTo, usado sob licença de Shutterstock.com.

 

LIVROS ESCRITOS POR BLAKE PIERCE

 

SÉRIE DE ENIGMAS KATE WISE

SE ELA SOUBESSE (Livro n 1)

SE ELA VISSE (Livro n 2)

 

SÉRIE OS PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE

ALVOS A ABATER (Livro #1)

ESPERANDO (Livro #2)

 

SÉRIE DE MISTÉRIO DE RILEY PAIGE

SEM PISTAS (Livro #1)

ACORRENTADAS (Livro #2)

ARREBATADAS (Livro #3)

ATRAÍDAS (Livro #4)

PERSEGUIDA (Livro #5)

A CARÍCIA DA MORTE (Livro #6)

COBIÇADAS (Livro #7)

 

SÉRIE DE ENIGMAS MACKENZIE WHITE

ANTES QUE ELE MATE (Livro nº1)

ANTES QUE ELE VEJA (Livro nº2)

ANTES QUE COBICE (Livro nº3)

ANTES QUE ELE LEVE (Livro nº4)

ANTES QUE ELE PRECISE (Livro nº5)

ANTES QUE ELE SINTA (Livro nº6)

ANTES QUE ELE PEQUE (Livro nº7)

ANTES QUE ELE CAÇE (Livro nº8)

ANTES QUE ELE ATAQUE (Livro nº9)

 

SÉRIE DE ENIGMAS AVERY BLACK

MOTIVO PARA MATAR (Livro nº1)

MOTIVO PARA CORRER (Livro nº2)

MOTIVO PARA SE ESCONDER (Livro nº3)

MOTIVO PARA TEMER (Livro nº4)

MOTIVO PARA SALVAR (Livro nº5)

MOTIVO PARA SE APAVORAR (Livro nº6)

 

SÉRIE DE ENIGMAS KERI LOCKE

UM RASTRO DE MORTE (Livro nº1)

UM RASTRO DE HOMICÍDIO (Livro nº2)

UM RASTRO DE IMORALIDADE (Livro nº3)

UM RASTRO DE CRIME (Livro nº4)

UM RASTRO DE ESPERANÇA (Livro nº5)

 

 ÍNDICE

PRÓLOGO

CAPÍTULO UM

CAPÍTULO DOIS

CAPÍTULO TRÊS

CAPÍTULO QUATRO

CAPÍTULO CINCO

CAPITULO SEIS

CAPÍTULO SETE

CAPÍTULO OITO

CAPÍTULO NOVE

CAPÍTULO DEZ

CAPITULO ONZE

CAPÍTULO DOZE

CAPÍTULO TREZE

CAPÍTULO CATORZE

CAPÍTULO QUINZE

CAPÍTULO DEZASSEIS

CAPÍTULO DEZASSETE

CAPÍTULO DEZOITO

CAPÍTULO DEZANOVE

CAPÍTULO VINTE

CAPÍTULO VINTE E UM

CAPÍTULO VINTE E DOIS

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

CAPÍTULO VINTE E QUATRO

CAPÍTULO VINTE E CINCO

CAPÍTULO VINTE E SEIS

CAPÍTULO VINTE E SETE

CAPÍTULO VINTE E OITO

CAPÍTULO VINTE E NOVE

CAPÍTULO TRINTA

CAPÍTULO TRINTA E UM

CAPÍTULO TRINTA E DOIS

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

CAPÍTULO TRINTA E CINCO

CAPÍTULO TRINTA E SEIS

CAPÍTULO TRINTA E SETE

CAPÍTULO TRINTA E NOVE

CAPÍTULO QUARENTA

 

 

 

PRÓLOGO

 

Tiffany já estava vestida quando a mãe a chamou para descer.

“Tiffany! Estás pronta para irmos à igreja?”

“Quase, Mãe,” Respondeu Tiffany. “Só mais uns minutos.”

“Bem, despacha-te. Temos que sair daqui a 5 minutos.”

“OK.”

A verdade era que Tiffany já se tinha acabado de vestir há vários minutos, logo depois de comer um delicioso pequeno-almoço de waffles com a Mãe e o Pai na cozinha. Ainda não estava era pronta para sair dali. Estava a divertir-se a ver uma série de vídeos de animais no telemóvel.

Até ao momento tinha visto um pequinês a andar de skate, um bulldog a trepar umas escadas, um gato a tentar tocar guitarra, um cão grande a perseguir a cauda quando alguém cantava "Pop Goes the Weasel” e uma montanha de coelhinhos.

Naquele momento, estava a ver um vídeo realmente engraçado. Um esquilo tentava entrar num alimentador de pássaros à prova de esquilos. Não importava a forma como abordava o alimentador, girava sempre e fazia-o voar. Mas o esquilo era determinado e não desistia.

O vídeo fê-la rir-se até a mãe chamá-la novamente.

“Tiffany! A tua irmã vem connosco?”

“Não me parece mãe.”

“Bem, vai perguntar-lhe se não te importares.”

Tiffany suspirou. O que lhe apetecia era responder qualquer coisa como…

“Vai perguntar-lhe tu.”

Mas em vez disso respondeu apenas, “OK.”

A irmã de dezanove anos de Tiffany, Lois, não descera para tomar o pequeno-almoço. Tiffany tinha a certeza que ela não tinha qualquer intenção de ir à igreja. Dissera-lho no dia anterior.

Lois andava cada vez menos com a família desde que entrara para a universidade no Outono. Vinha a casa na maior parte dos fins-de-semana e nas festas e pausas, mas ora se mantinha afastada ou saía com amigos, e dormia quase sempre até tarde.

Tiffany não a podia censurar.

A vida com a família Pennington era mais do que suficiente para aborrecer de morte uma adolescente. E a ida à igreja aborrecia Tiffany acima de tudo.

Com um suspiro, parou o vídeo e saiu para o corredor. O quarto de Lois era por cima do dela – um quarto luxuoso que ocupava grande parte do sotão. Até tinha a sua própria casa de banho privativa e um armário gigantesco. Tiffany ainda estava presa ao pequeno quarto do segundo andar onde se encontrava desde sempre.

Não era justo. Esperava herdar o quarto da irmã quando ela fosse para a faculdade. Porque é que a Lois precisava de todo aquele espaço agora que apenas aparecia aos fins-de-semana? Será que não poderiam finalmente trocar de quartos?

Ela queixava-se disso frequentemente, mas ninguém parecia ouvi-la.

Colocou-se ao fundo das escadas que conduziam ao sotão e chamou.

“Ei, Lois! Vens connosco?”

Não obteve resposta. Revirou os olhos. Aquilo acontecia com frequência quando tinha que chamar Lois para alguma coisa.

Subiu as escadas e bateu à porta do quarto da irmã.

“Ei, Lois,” Chamou novamente. “Vamos à igreja. Vens?”

Mais uma vez, não obteve resposta.

Tiffany mexeu os pés impacientemente, depois bateu outra vez.

“Estás acordada?” Perguntou.

Nenhuma resposta sobreveio.

Tiffany começava a perder a paciência. A Lois podia estar a dormir profundamente ou a ouvir música com os fones. Contudo, o mais provável seria estar simplesmente a ignorá-la.

“OK,” Gritou. “Vou dizer à mãe que não vens.”

Quando Tiffany se preparava para descer as escadas, começou a sentir-se preocupada. A Lois parecia andar um pouco m baixo nas suas últimas visitas – não propriamente deprimida, mas não tão alegre como habitualmente. Dissera a Tiffany que a faculdade era mais difícil do que esperava e que a pressão começava a atingi-la.

No fundo das escadas, o pai olhava impacientemente para o seu relógio. Parecia pronto envolto no seu sobretudo quente, com um boné de pele, um cachecol e luvas. A mãe também já vestia o seu casaco.

“Então a Lois vem?” Perguntou o pai.

“Ela disse que não,” Disse Tiffany. O pai podia zangar-se se Tiffany dissesse que a Lois nem respondera à sua batida na porta.

“Bem, não estou surpreendida,” Disse a mãe, colocando as luvas. “Ouvi-a chegar no carro ontem à noite. Nem sei bem que horas eram.”

Tiffany sentiu inveja mais uma vez perante a menção do carro da irmã. A Lois tinha tanta liberdade agora que estava na faculdade! O melhor de tudo era que ninguém se importava muito com a hora a que chegava a noite. Ela nem a tinha ouvido chegar na noite passada.

Devia estar a dormir profundamente, Pensou.

Quando Tiffany começou a vestir o seu casaco, o pai resmungou, “Vocês estão a demorar uma eternidade. Vamos chegar atrasados à missa.”

“Temos muito tempo para lá chegar,” Disse a mãe tranquilamente.

“Vou saindo para por o carro a trabalhar,” Disse o pai.

Abriu a porta do condutor e entrou. Tiffany e a mãe aprontaram-se rapidamente e seguiram-no.

O ar frio atingiu Tiffany em cheio. Ainda havia neve de vários dias no chão. Só desejava ainda se encontrar na sua cama quente. Era um péssimo dia para ir onde quer que fosse.

De repente, ouviu a mãe.

“Lester, o que é?” Perguntou a mãe ao pai.

Tiffany viu o pai em pé em frente da porta aberta da garagem. Ele olhava para a garagem com os olhos e a boca muito abertos. Parecia estupefacto e horrorizado.

“O que é que se passa?” Perguntou novamente a mãe.

O pai virou-se para ela. Parecia ter dificuldade em dizer o que quer que fosse.

Por fim, disse, “Liga para o 112.”

“Porquê?” Perguntou a mãe.

O pai não explicou. Foi para a garagem. A mãe olhou para a frente e quando alcançou a porta aberta, soltou um grito que paralisou Tiffany de medo.

A mãe dirigiu-se rapidamente para o interior da garagem.

Por um momento interminável, Tiffany ficou imóvel.

“O que é que se passa?” Perguntou Tiffany.

Ouviu a voz soluçante da mãe vinda da garagem, “Vai para dentro Tiffany.”

“Porquê?” Perguntou.

A mãe veio a correr da garagem. Agarrou no braço de Tiffany e tentou levá-la para a casa.

“Não olhes,” Disse ela. “Vai para dentro.”

Tiffany libertou-se da mãe e dirigiu-se à garagem.

Levou um momento a abarcar tudo. Os três carros estavam ali estacionados. Num canto à esquerda, o pai debatia-se desajeitamente com uma escada.

Algo estava pendurado ali por uma corda atada a uma trave do teto.

Era uma pessoa.

Era a sua irmã.

 

CAPÍTULO UM

 

Riley Paige acabara de se sentar para jantar quando a filha lhe disse algo que a surpreendeu.

“Não somos a família perfeita?”

Riley olhou para April cujo rosto se enrubesceu de vergonha.

“Uau, acabei de dizer isto em voz alta?” Disse April encabulada. “Não foi foleiro?”

Riley riu-se e olhou a mesa em seu redor. O seu ex-marido, Ryan, estava sentado no extremo oposto da mesa. À sua esquerda estava a sua filha de quinze anos, April, e ao lado dela, Gabriela, a empregada. À sua direita estava Jilly de treze anos, uma novata na família.

April e Jilly tinham feito hamburgueres para o jantar de domingo, dando um descanso da cozinha a Gabriela.

Ryan trincou o seu hamburguer e disse, “Bem, nós somos uma família, não somos? Quero dizer, olhem bem para nós.”

Riley não disse nada.

Uma família, Pensou. É isso o que realmente somos?

A ideia apanhou-a um pouco de surpresa. No final de contas, ela e Ryan estavam separados há quase dois anos e estavam divorciados há seis meses. Apesar de estarem novamente a passar tempo juntos, Riley andava a evitar pensar muito aponde aquilo os levaria. Pusera de lado anos de sofrimento e traição para desfrutar de um presente pacífico.

Depois havia April, cuja adolescência fora tudo menos fácil. Será que o seu sentimento de unidade duraria?

Riley sentiu-se ainda mais incerta quanto a Jilly. Encontrara Jilly numa paragem de camionagem em Phoenix a tentar vender o corpo a camionistas. Riley salvara Jilly de uma vida terrível e de um pai violento, e agora esperava poder adotá-la. Mas Jilly ainda era uma rapariga problemática e as coisas com ela eram muito incertas.

A única pessoa naquela mesa em relação à qual Riley não tinha dúvidas era Gabriela. A robusta mulher Guatemalteca trabalhava com a família desde o período anterior ao divórcio. Gabriela sempre fora responsável e carinhosa.

“O que lhe parece, Gabriela?” Perguntou Riley.

Gabriela sorriu.

“Uma família pode ser escolhida, não apenas herdada,” Disse ela. “O sangue não é tudo. O amor é o que importa.”

De repente, Riley sentiu um conforto interior. Podia sempre contar com Gabriela para dizer o que devia ser dito. Olhou para as pessoas que a rodeavam com um novo sentido de satisfação.

Depois de estar de licença da UAC durante um mês, gostava dos momentos que passava em casa.

E desfruto da minha família, Pensou.

Então April disse algo que a surpreendeu.

“Pai, quando é que te mudas para cá?”

Ryan pareceu assustado. Riley pensou, como pensava com frequência, se o seu recentemente descoberto novo compromisso era demasiado bom para durar.

“Isso é um assunto demasiado sério para debater agora,” Disse Ryan.

“Porquê?” Perguntou April ao pai. “Mais vale viveres aqui. Quero dizer, tu e a mãe estão a dormir juntos outra vez e estás cá quase todos os dias.”

Riley sentiu o seu rosto enrubescer. Chocada, Gabriela deu a April uma valente cotovelada.

“¡Chica! ¡Silencio!” Disse.

Jill olhou à volta com um sorriso.

“Ei, isso é uma ótima ideia,” Disse ela. “Assim tinha a certeza de ter boas notas.”

Era verdade – Ryan estava a ajudar Jilly na matéria da nova escola, sobretudo com estudos sociais. Na verdade, vinha sendo um grande apoio em todas elas nos últimos meses.

Os olhos de Riley encontraram os de Ryan. Viu que também ele corava.

Quanto a ela, não sabia o que dizer. Tinha que admitir que a ideia lhe agradava. Habituara-se à ideia de Ryan passar a maior parte das noites aali. Tudo tinha encaixado tão facilmente – talvez demasiado facilmente. Talvez o seu conforto viesse do facto de não ter que tomar decisões sobre o assunto.

Lembrava-se do que April tinha dito ainda à pouco.

“A família perfeita.”

Realmente assim parecia naquele momento. Mas Riley não conseguia evitar sentir-se desconfortável. Seria toda aquela perfeição apenas uma ilusão? Tal como ler um bom livro ou assistir a um filme agradável?

Riley estava demasiado consciente que o mundo lá fora estava repleto de monstros. Ela devotara a sua vida profissional a combatê-los. Mas no último mês, quase conseguira fingir que eles não existiam.

Lentamente, um sorriso atravessou o rosto de Ryan.

“Ei, porque é que não nos mudamos todos para a minha casa?” Perguntou ele. “Hà muito espaço para todos.”

Riley conteve um esgar de alarme.

A última coisa que ela queria era mudar-se para a grande casa suburbana que partilhara com Ryan durante anos. Estava demasiado repleta de memórias desagradáveis.

“Eu não posso abdicar desta casa,” Disse ela. “Sinto-me tão bem aqui.”

April olhou para o pai ansiosamente.

“É contigo pai,” Disse ela. “Mudas-te para cá ou não?”

Riley observou o rosto de Ryan. Percebeu que lutava para tomar uma decisão. Compreendia pelo menos uma das razões. Ele pertencia a uma firma de advogados de DC, mas a maior parte das vezes trabalhava em casa e ali não havia espaço para ele fazer isso.

Por fim, Ryan disse, “Tinha que manter a casa. Podia ser o meu escritório local.”

April quase saltava de excitação.

“Então estás a dizer que sim?” Perguntou.

Ryan sorriu em silêncio durante um momento.

“Sim, acho que sim,” Disse por fim.

April libertou um guincho de prazer. Jilly bateu palmas e riu-se.

“Ótimo!” Disse Jilly. “Passa-me o ketchup se faz favor… Pai.”

Ryan, April, Gabriela e Jilly começaram a conversar animadamente enquanto continuavam a comer.

Riley disse a si própria para desfrutar daquele momento feliz enquanto podia. Mais tarde ou mais cedo, ela seria chamada a combater outro monstro. O mero pensamento arrepiou-a. Já estaria algo de maligno à espreita, à sua espera?

 

*

 

No dia seguinte, o horário na escola de April era mais reduzido devido a reuniões de professores e Riley tinha cedido aos pedidos da filha para a deixar fazer gazeta o dia todo. Tinham decidido ir fazer compras enquanto a Jilly ainda estava na escola.

As filas de lojas no centro comercial pareciam infinitas a Riley  e muitas lojas pareciam-se muito umas com as outras. Manequins magricelas com roupas estilosas posavam de forma impossível em cada janela. As figuras por que passavam naquele momento não tinham cabeça, o que acrescentava a Riley a impressão de que eram todas permutáveis. Mas April não parava de lhe dizer o que cada loja continha e que estilos adorava usar. Aparentemente, April via variedade onde Riley via uniformidade.

Coisas de adolescente, Pensou Riley.

Pelo menos, o centro comercial não estava a abarrotar de gente.

April apontou na direção de um sinal fora de uma loja chamada Towne Shoppe.

“Ah, olha!” Disse ela. “’LUXO ACESSÍVEL’! Vamos entrar para dar uma espreitadela!”

No interior da loja, April agarrou-se a calças de ganga e casacos, retirando coisas para experimentar.

“Acho que também preciso de umas calças de ganga novas,” Disse Riley.

April revirou os olhos.

“Oh mãe, não calças de ganga de mãe, por favor!”

“Bem, não posso usar aquilo que tu usas. Tenho que me movimentar sem me preocupar se a minha roupa vai rebentar ou voar. Só coisas práticas para mim, obrigado.”

April riu-se. “Um par de calças largas, queres dizer! Boa sorte para encontrares algo do género aqui.”

Riley olhou para as calças de ganga disponíveis. Eram todas extremamente apertadas, de cintura baixa e rasgadas artificialmente.

Riley suspirou. Conhecia outras lojas no centro comercial onde podia comprar algo mais dentro do seu estilo. Mas iria ter que aguentar todo o tipo de provocação de April.

“Procuro as minhas noutra ocasião,” Disse Riley.

April agarrou num conjunto de calças de ganga e foi para o vestiário. Quando saiu, usava o tipo de calças de ganga que Riley detestava – apertadas, rasgada em alguns pontos e com o umbigo bem à vista.

Riley abanou a cabeça.

“Não queres experimentar as calças de mãe,” Disse ela. “São bem mais confortáveis. Mas por outro lado, estar confortável não é bem o teu objetivo, pois não?”

“Não,” Disse April., virando-se e olhando para as calças ao espelho. “Vou levar estas. Vou experimentar as outras.”

April voltou para o vestiário várias vezes. Regressava sempre com calças de ganga que Riley odiava mas que nunca a proibiria de comprar. Não valia a pena uma disputa por esse motivo e sabia que perderia de uma forma ou de outra.

Quando April posava ao espelho, Riley percebeu que a filha estava quase tão alta como ela e que a T-shirt que usava revelava uma figura bem desenvolvida. Com o seu cabelo negro e olhos de avelã, a parecença de April a Riley era esmagadora. É claro que o cabelo de April não tinha os fios brancos que surgiam na cabeleira de Riley. Mas mesmo assim…

Está a tornar-se numa mulher, Pensou Riley.

Não conseguiu evitar sentir-se desconfortável com a ideia.

Estaria a April a crescer demasiado rapidamente?

Não havia dúvidas de que passara por muito no último ano. Fora raptada duas vezes. Numa dessas vezes, fora mantida na escuridão por um sádico com um maçarico. Também tivera que combater contra um assassino na sua própria casa. Pior que tudo, um namorado violento drogara-a e tentara vendê-la para sexo.

Riley sabia que era demais para uma rapariga de quinze anos. Ela sentia-se culpada que o seu próprio trabalho tivesse colocado April e outras pessoas que amava em perigo de morte.

E agora aqui estava April, parecendo espantosamente madura apesar dos seus esforços para parecer e agir como uma adolescente normal. April parecia já ter ultrapassado o pior do SPT. Mas que tipo de medos e ansiedades ainda a perturbavam? Alguma vez as ultrapassaria?

Riley pagou pelas roupas novas de April e caminhou na direção da varanda do centro comercial. A confiança no caminhar de April fez Riley sentir-se menos preocupada. Afinal de contas, as coisas estavam a melhorar. Ela sabia que naquele preciso momento Ryan estava a levar algumas das suas coisas para a sua casa. E tanto April como Jilly estavam bem na escola.

Riley estava prestes a sugerir que fossem comer alguma coisa quando o telemóvel de April tocou. April afastou-se abruptamente para atender a chamada, Riley sentiu-se desolada. Por vezes aquele telemóvel parecia uma coisa viva que exigia toda a atençao de April.

“Ei, tudo bem?” Perguntou April a quem lhe ligara.

De repente, os joelhos de April cederam e ela sentou-se. O rosto empalideceu e a sua expressão feliz transformou-se numa de dor. Lágrimas correram pelo seu rosto. Alarmada, Riley foi ao seu encontro e sentou-se a seu lado.

“Oh meu Deus!” Exclamou April. “Como… Porquê… Não entendo….”

Riley sentia-se alarmada.

O que é que tinha acontecido?

Alguém estava magoado ou em perigo?

Era a Jilly, o Ryan, a Gabriela?

Não, alguém teria ligado a Riley com tais notícias e não a April.

“Lamento tanto, tanto,” Dizia April ininterruptamente.

Por fim, terminou a chamada.

“Quem era?” Perguntou Riley ansiosamente.

“Era a Tiffany,” Disse April numa voz atordoada.

Riley reconheceu o nome. Tiffany Pennington era a melhor amiga de April por aqueles dias. Riley encontrara-a algumas vezes.

“O que é que se passa?” Perguntou Riley.

April olhou para Riley com uma expressão de dor e horror.

“A irmã da Tiffany está morta,” Disse April.

Parecia que April não conseguia acreditar nas suas próprias palavras.

Depois numa voz abafada acrescentou, “Dizem que se suicidou.”

 

CAPÍTULO DOIS

 

Naquela noite ao jantar, April tentou transmitir à família o pouco que sabia sobre a morte de Lois. Mas as suas próprias palavras lhe soavam estranhas, como se outra pessoa estivesse a falar.

Não parece real, Não parava de pensar.

April tinha-se encontrado com Lois várias vezes quando visitava Tiffany. Lembrava-se da última vez com nitidez. Lois estava sorridente e feliz, cheia de histórias sobre a nova escola. Era simplesmente impossível de acreditar que estava morta.

A morte não era propriamente uma coisa nova para April. Ela sabia que a mãe enfrentara a morte e que tivera que matar ao trabalhar em casos do FBI. Mas matara gente má, gente que tinha que ser parada. April até ajudara a mãe a lutar e matar um assassino sádico após a manter prisioneira. Ela também sabia que o avô tinha morrido há quatro meses, mas não o via há muito tempo e nunca tinham sido muito próximos.

Mas esta morte era mais real para ela e não fazia sentido nenhum. De alguma forma, nem parecia possível.

Ao falar, April reparou que a sua família também parecia confusa e angustiada. A mãe aproximou-se e pegou-lhe na mão. Gabriela benzeu-se e murmurou uma reza em Espanhol. Jilly nem se conseguia expressar.

April tentou lembrar-se de tudo o que Tiffany lhe contara quando tinham falado novamente nessa tarde. Explicara-lhe que na manhã do dia anterior ela, a mãe e o pai tinham descoberto o corpo de Lois pendurado na garagem. A polícia pensou tratar-se de suicídio. Na verdade, toda a gente agia como se tivesse sido um ato suicida. Como se fosse um dado consumado.

Toda a gente menos Tiffany que não parava de dizer que não acreditava.

O pai de April estremeceu quando ela acabou de contar tudo aquilo de que se lembrava.

“Eu conheço os Pennington,” Disse ele. “O Lester é um gestor financeiro de uma empresa de construção. Não exatamente ricos, mas muito bem na vida. Sempre pareceram uma família estável e feliz. Porque é que a Lois faria uma coisa daquelas?”

April andava a colocar essa pergunta a si própria todo o dia.

“A Tiffany diz que ninguém sabe,” Disse April. “A Lois estava no seu primeiro ano na Universidade Byars. Andava um bocado stressada, mas mesmo assim…”

Ryan abanou a cabeça.

“Bem, talvez isso explique tudo,” Disse ele. “Byars é uma escola dura. Ainda mais dura do que Georgetown. E muito cara. Surpreende-me que a família pudesse pagá-la.”

April suspirou profundamente e não disse nada. Pensava que Lois tinha bolsa de estudo, mas não o verbalizou. Não lhe apetecia falar sobre isso. Também não lhe apetia comer. Gabriela tinha preparado uma das suas especialidades, uma sopa de frutos do mar chamada tapado que April normalmente adorava. Mas até ao momento, não tinha provado uma colher.

Todos se calaram durante alguns momentos.

Depois Jilly disse, “Ela não se matou.”

Alarmada, April olhou fixamente para Jilly. E todos os outros também. A adolescente mais nova cruzou os braços e parecia muito séria.

“O quê?” Perguntou April.

“A Lois não se matou,” Disse Jilly.

“Como é que sabes?” Perguntou April.

“Eu conhecia-a, lembras-te? Eu saberia. Ela não era o tipo de rapariga que fizesse uma coisa dessas. Ela não queria morrer.”

Jilly parou de falar durante um momento.

Depois disse, “Sei como é querer morrer. Ela não queria. Eu saberia.”

O coração de April saltou-lhe à garganta.

Ela sabia que Jilly tinha passado pelo seu inferno. Jilly contara-lhe sobre o pai violento que a fechara fora de casa numa noite de muito frio. Jilly tinha dormido num cano e depois fora para a paragem de camionagem onde tentara tornar-se prostituta. Foi nessa altura que a mãe a encontrara.

Se havia alguém que sabia o que era querer morrer, esse alguém era Jilly.

April sentiu invadir-se por uma onda de dor e horror. Estaria a Jilly errada? Será que Lois se sentira tão miserável?

“Desculpem-me,” Disse April. “Acho que não consigo comer agora.”

April levantou-se da mesa e foi para o seu quarto. Fechou a porta, atirou-se à cama e chorou.

Não sabia quanto tempo tinha passado, mas algum tempo depois, ouviu uma pancada na porta.

“April, posso entrar?” Perguntou a mãe.

“Sim,” Disse April numa voz abafada.

April sentou-se e Riley entrou no quarto trazendo uma sanduíche de queijo num prato. Riley sorriu.

“A Gabriela pensou que isto podia ser melhor para o teu estômago do que o tapado.” Disse Riley. “Ela está preocupada que fiques doente se não comeres. Eu também estou preocupada.”

April sorriu por entre as lágrimas. A preocupação da Gabriela e da mãe era comovedoras.

“Obrigada,” Disse.

Limpou as lágrimas e deu uma dentada na sanduíche. Riley sentou-se na cama a seu lado e pegou-lhe na mão.

“Queres falar?” Perguntou Riley.

April conteve um soluço. Por alguma razão, recordava-se agora que a sua melhor amiga, Crystal, se mudara recentemente. O pai dela, Blaine, tinha sido espancado ali mesmo naquela casa. Apesar dele e da mãe terem estado interessados um no outro, ele ficara tão abalado que decidira mudar-se.

“Tenho uma sensação estranha,” Disse April. “Como se isto fosse de alguma forma culpa minha. Coisas terríveis não param de nos acontecer, e quase parece ser contagioso. Eu sei que não faz sentido mas…”

“Eu percebo como te sentes,” Disse Riley.

April ficou surpreendida. “Percebes?”

A expressão de Riley entristeceu.

“Eu também sinto isso muitas vezes,” Disse ela. “O meu trabalho é perigoso. E coloca todos os que amo em perigo. Faz-me sentir culpada. Muito.”

“Mas a culpa não é tua,” Disse April.

“Então porque é que tu pensas que a culpa é tua?”

April não sabia o que dizer.

“Que mais te incomoda?” Perguntou Riley.

April pensou por um momento.

“Mãe, a Jilly tem razão. Eu não acredito que a Lois se tenha matado. E a Tiffany também não. Eu conhecia a Lois. Ela era feliz, uma das pessoas mais equilibradas que eu já conheci. E a Tiffany via nela um exemplo. Ela era a heroína da Tiffany. Não faz sentido.”

April via pela expressão da mãe que não acreditava nela.

Ela pensa que estou a ser histérica, Pensou April.

“April, a polícia deve pensar que foi suicídio, e a mãe e o pai…”

“Bem, estão enganados,” Disse April, surpresa com a aspereza da sua própria voz. “Mãe, tens que investigar. Sabes mais sobre estas coisas do que qualquer um deles. Até mais do que a polícia.”

Riley abanou a cabeça com tristeza.

“April, eu não posso fazer isso. Não posso começar a investigar algo que já está estabelecido. Pensa no que a família sentiria a esse respeito.”

Era tudo o que April podia fazer para evitar chorar outra vez.

“Mãe, imploro-te. Se a Tiffany nunca descobrir a verdade, a vida dela vai colapsar. Nunca vai ultrapassar isto. Por favor faz alguma coisa, por favor.”

Era um grande favor que pedia e April sabia-o. Riley não respondeu durante alguns instantes. Levantou-se e dirigiu-se à janela do quarto olhando para o exterior. Parecia estar embrenhada nos seus pensamentos.

Ainda a olhar para o exterior, Riley finalmente disse, “Eu vou falar com os pais da Tiffany amanhã. Isto é, se eles quiserem falar comigo. É tudo o que posso fazer.”

“Posso ir contigo?” Perguntou April.

“Tens escola amanhã,” Disse Riley.

“Então vamos depois da escola.”

Riley ficou novamente em silêncio e depois disse, “OK.”

April levantou-se da cama e abraçou-a com força. Queria dizer obrigado, mas sentia-se demasiado esmagada pela gratidão para conseguir verbalizar o que quer que fosse.

Se há alguém que pode descobrir o que se passa de errado, é a mãe, Pensou April.

 

CAPÍTULO TRÊS

 

Na tarde seguinte, Riley foi com April a casa dos Pennington. Apesar das suas dúvidas de que Lois Pennington tivesse sido assassinada, Riley tinha a certeza de que aquilo era o melhor que tinha a fazer.

Devo-o à April, Pensou enquanto conduzia.

No final de contas, ela sabia o que era ter a certeza a respeito de alguma coisa e ninguém acreditar nela.

E a April parecia ter a certeza de que algo estava muito errado.

Quanto a Riley, os seus instintos não apontavam num nem noutro sentido. Mas ao penetrarem numa zona de classe alta de Fredericksburg, lembrou-se que os monstros muitas vezes se insinuam atrás das fachadas mais pacíficas. Muitas das magníficas casas por que passavam, escondiam com toda a certeza segredos sombros. Riley já vira demasiado mal na sua vida para não ter essa certeza.

E quer a morte de Lois tivesse sido suicídio ou assassinato, não havia dúvidas de que um monstro tinha invadido a aparentemente feliz casa dos Pennington.

Riley estacionou o carro na rua em frente à casa. Era uma casa grande de três andares e preenchendo um lote consideravelmente amplo. Riley lembrava-se do que Ryan dissera sobre os Pennington.

“Não exatamente ricos, mas bem na vida.”

A casa confirmava as palavras de Ryan. Era uma casa atrativa situada num simpático bairro. A única coisa que parecia fora do vulgar nela era a fita da polícia nas portas da garagem onde a família encontrara a filha enforcada,

O ar gelado mordia aperamente quando Riley e April saíram do carro e caminharam na direção da casa. Vários carros estavam estacionados à entrada.

Tocaram à campainha e Tiffany recebeu-as. April atirou-se aos braços de Tiffany e ambas as raparigas começaram a chorar.

“Oh, Tiffany, lamento tanto,” Disse April.

”Obrigada, obrigada por virem,” Disse Tiffany.

A emoção partilhada deixou um nó na garganta de Riley. As duas raparigas pareciam tão jovens naquele momento, pouco mais do que crianças. Parecia terrivelmente injusto que tivessem que passar por tal situação. Ainda assim, sentiu uma estranha ponta de orgulho na sentida bondade de April. April crescia para ser atenciosa e solidária.

Devo estar a fazer alguma bem feita enquanto mãe, Pensou Riley.

Tiffany era um pouco mais baixa do que April. O cabelo era louro e a pele pálida e sardenta, o que tornava a vermelhidão à volta dos olhos de chorar mais pronunciada.

Tiffany levou Riley e April para a sala de estar. Os pais de Tiffany estavam sentados num sofá, ligeiramente separados um do outro. A sua linguagem corporal revelava alguma coisa? Riley não estava certa. Ela sabia que os casais lidavam com a dor de muitas formas diferentes.

Havia várias outras pessoas por ali, a falar umas com as outras em sussurros silenciosos. Riley pressupôs que fossem amigos e família que tivessem vindo ajudar como pudessem.

Ouviu vozes baixas e o ruído de utensílios na cozinha onde as pessoas pareciam estar a preparar comida. Através de um arco que dava para a sala de refeições, viu dois casais a arranjar fotos e recordações na mesa. Também havia várias fotos de Lois e da família em diversas idades dispostas na sala de estar.

Riley estremeceu perante o mero pensamento de que aquela rapariga estivera viva há apenas dois dias. Como é que ela se sentiria se tivesse perdido April de forma tão súbita? Era uma possibilidade assustadora e já houvera momentos em que essa possibilidade não fora uma hipótese remota.

Quem iria a sua casa ajudar e confortar?

Quereria que alguém a ajudasse e confortasse?

Abandonou estes pensamentos assim que Tiffany a apresentou aos pais, Lester e Eunice.

“Não se levantem, por favor,” Disse Riley quando o casal se começou a erguer para a cumprimentar.

Riley e April sentaram-se junto do casal. Eunice tinha a compleição sardenta e cabelo claro da filha. A compleição de Lester era mais escura e o seu rosto era longo e magro.

“Lamento muito a vossa perda,” Principiou Riley.

O casal agradeceu-lhe. Lester conseguiu forçar um pequeno sorriso.

“Nunca nos encontrámos, mas conheço o Ryan superficialmente,” Disse ele. “Como é que ele tem passado?”

Tiffany levantou-se da sua cadeira e deu um toque no braço do pai. Disse em voz baixa, “Pai, eles estão divorciados.”

O rosto de Lester corou ligeiramente.

“Oh, peço desculpa,” Disse ele.

Riley sentiu-se enrubescer.

“Não faz mal,” Disse ela. “Como as pessoas dizem hoje em dia – ‘é complicado’”.

Lester anuiu, ainda sorrindo fracamente.

Ninguém disse nada durante alguns instantes enquanto um ruído ligeiro de atividade permanecia à sua volta.

Então Tiffany disse, “Mãe, pai – a mãe da April é agente do FBI.”

Lester e Eunice ficaram atrapalhados por um momento sem saber o que dizer. Outra vez envergonhada, Riley também não sabia o que dizer. Ela sabia que April tinha ligado a Tiffany no dia anterior para lhe dizer que iriam aparecer. Parecia que Tiffany não tinha dito aos pais qual era a profissão de Riley.

Tiffany olhou para os pais e depois disse, “Pensei que talvez ela pudesse ajudar-nos a descobrir… o que realmente aconteceu.”

Lester tossicou e Eunice suspirou amargamente.

“Tiffany, já falámos sobre isto,” Disse Eunice. “Nós sabemos o que aconteceu. A polícia tem a certeza. Não temos nenhuma razão para crer no contrário.”

Lester levantou-se desequilibradamente.

“Eu não consigo lidar com isto,” Disse ele. “Eu simplesmente… não consigo.”

Virou-se e dirigiu-se à sala de refeições. Riley percebeu que os dois casais que lá se encontravam se apressaram a confortá-lo.

“Tiffany, devias ter vergonha,” Disse Eunice.

Os olhos da rapariga brilhavam com lágrimas.

“Mas eu só quero saber a verdade mãe. A Lois não se matou. Ela não podia ter feito isso. Eu sei.”

Eunice olhou para Riley.

“Peço desculpa por ter sido arrastada para esta situação,” Disse ela. “À Tiffany está a ter problemas em aceitar a verdade.”

“Tu e o pai é que não conseguem lidar com a verdade,” Disse Tiffany.

“Cala-te,” Ripostou a mãe.

Eunice deu um lenço a filha.

“Tiffany, há coisas que não sabias a respeito da Lois,” Disse ela lenta e cautelosamente. “Ela era mais infeliz do que alguma vez te deu a entender. Ela adorava a faculdade, mas não era fácil para ela. Manter as notas altas para ter direito à bolsa de estudo implicava muita pressão e também lhe era difícil estar longe de casa. Tinha começado a tomar antidepressivos e estava a ser acompanhada em Byars. O teu pai e eu pensámos que ela estivesse melhor, mas enganámo-nos.”

Tiffany tentava controlar os soluços, mas ainda parecia estar muito zangada.

“Aquela escola é um lugar horrível,” Disse ela. “Eu nunca iria para lá.”

“Não é horrível,” Disse Eunice. “É uma escola muito boa. É exigente, é tudo.”

“Aposto que as outras raparigas que lá andam não pensam que a escola seja assim tão boa,” Disse Tiffany.

April ouvia a amiga com grande preocupação.

“Que outras raparigas?” Perguntou.

“A Deanna e a Cory,” Disse Tiffany. “Elas também morreram.”

Eunice abanou a cabeça com tristeza e disse a Riley, “Duas outras raparigas cometeram suicídio em Bryars no último semestre. Foi um ano terrível lá.”

Tiffany olhou para a mãe.

“Não foram suicídios,” Disse ela. “A Lois não pensava que tivessem sido. Ela pensava que havia algo de errado com aquele lugar. Ela não sabia o que era mas disse-me que era algo muito mau.”

“Tiffany, foram suicídios,” Disse Eunice, agastada. “Todos o dizem. Essas coisas acontecem.”

Tiffany levantou-se a tremer e raiva e frustração.

“A morte da Lois não se limitou a acontecer,” Disse ela.

Eunice disse, “Quando fores mais velha, vais entender que a vida pode ser mais dura do que gostaríamos. Agora, senta-te se fizeres favor.”

Tiffany sentou-se num silêncio soturno. Eunice fixou o olhar no vazio. Riley sentiu-se tremendamente desconfortável.

“Não viémos até cá para a perturbar,” Disse Riley a Eunice. “Peço desculpa pela intrusão. Talvez seja melhor irmos embora.”

Eunice anuiu em silêncio. Riley e April saíram da casa dos Pennington.

“Devíamos ter ficado,” Disse April soturnamente assim que chegaram ao exterior. “Devíamos ter feito mais perguntas.”

“Não, só as estávamos a aborrecer,” Disse Riley. “Foi um erro terrível.”

De repente, April afastou-se dela.

“Onde vais?” Perguntou Riley, alarmada.